De méritos e vendedores de ilusões

As paixões políticas têm dividido famílias e desfeito amizades, mas precisamos ter cuidado para não tirar o mérito de quem defende esse ou aquele lado e, principalmente, não subestimarmos a justa indignação de quem se decepcionou com os vendedores de ilusões

Em tempos de polarização e paixões exacerbadas, quem ainda não se sectarizou ou fanatizou por crenças ideológicas deve se acautelar para não embarcar na onda de só dar mérito a quem está de certo lado. Em geral, a maioria das pessoas não está de lado nenhum, vive a batalha diária e árdua de sustentar os seus  e os agregados, o que é um grande mérito. Se cada um cuidasse de suas responsabilidades, não abandonasse os filhos à própria sorte, parte dos problemas estaria resolvido.

As paixões políticas têm dividido famílias e desfeito amizades frágeis, as quais, na verdade, são interesses que as pessoas confundem com o sentimento nobre de estender a mão e dar o ombro sem esperar retorno de alguém. Qualquer manifestação de discordância ou crítica já é motivo para bloqueios em redes de comunicação. Há pessoas brigando por remédio, indo presas por causa de vacina e cloroquina.

A criação desses lados serve a interesses autoritários, à esquerda e à direita. Fica mais fácil manobrar gente sectarizada. A compreensão política e a crítica e a autocrítica sobre erros e acertos desaparecem. “Se estiver do nosso lado, está certo”, bradam.
Nesses grupos radicalizados, infiltram-se os canalhas de sempre, fingindo-se de revolucionários, por um lado, ou defensores da moral e dos bons costumes, por outro, quando uma análise mais acurada da vida pregressa de cada um mostrará que foram sacripantas a vida inteira.

É preciso ter cuidado para não tirarmos o mérito das pessoas só porque estão desse ou daquele lado e não subestimarmos a justa indignação de quem já apoiou as duas bandas e se sentiu encurralado no beco sem saída em que o povo é jogado pelos vendedores de ilusões.

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