Congresso segue Sales e passa boiada da impunidade

Enquanto a população se distrai com as maluquices de Bolsonaro e sua trupe, deputados e senadores aprovam projetos para garantir que não haverá uma nova Lava Jato

Sempre apostando na impunidade, os políticos brasileiros, dos mais diferentes matizes, demonstram não ter qualquer conexão com a população e a realidade brasileira. Quando o assunto é defender os próprios interesses todos estão unidos em um mesmo objetivo, não importando a ideologia partidária, direita, esquerda, centro.

Um exemplo é a votação, prevista para esta terça-feira (5), do projeto que altera as regras da Lei 8429/1992, conhecida como Lei da Improbidade Administrativa. A principal mudança no texto atual é a exigência da comprovação do dolo por parte do agente público para que ele seja punido, não bastando a culpa pelo cometimento do ato. Para os críticos da proposta, as mudanças tornam mais difíceis a punição dos maus gestores e, consequentemente, o combate à corrupção.

A inclusão de um critério subjetivo parece sob medida para facilitar a tarefa de advogados bem remunerados em suas causas para absolver gestores públicos enrolados em malfeitos com dinheiro público. A aprovação desse projeto é um acinte ao povo brasileiro. Uma verdadeira bofetada na cara de todos os cidadãos. Afinal, em um momento tão difícil, deputados e senadores deveriam focar em apreciar propostas que solucionassem os problemas da população como o estímulo à geração de emprego e renda, melhoria das escolas, da saúde, da segurança. Enfim, coisas que de fato fizessem a diferença na vida do povo e não na deles.

Infelizmente, não é assim que a banda toca. O Congresso tem sigo ágil na aprovação de propostas que dificultem o combate à corrupção e beneficiem os corruptos. Foi assim ao criarem o tal juiz de garantias, para impedir o andamento de processos dos ricos e poderosos. Como na reforma eleitoral, que alterou a Lei da Ficha Limpa, e abriu brechas para políticos corruptos disputarem eleições.

Em março deste ano, aproveitando o avançado da hora, o presidente da Câmara, Arthur Lira, colocou em votação um projeto para dificultar a prisão de parlamentares. A proposta só não seguiu adiante por causa da dura reação da imprensa e da sociedade.

Senador Alvaro Dias – Foto Orlando Brito

Essa mesma agilidade não tem sido usada na aprovação de propostas que visam punir os corruptos, como na PEC do senador Alvaro Dias, que põe fim ao foro privilegiado, e no projeto que prevê a prisão após condenação em segunda instância. Ambos se encontram no fundo da gaveta de Lira, sem qualquer perspectiva de votação. É um gavetão, em que também seguem esquecidos dezenas e dezenas de pedidos de impeachment de Bolsonaro.

Durante muitos anos a impunidade foi regra em relação aos poderosos no Brasil. Em 2014, com o fim do julgamento da Ação Penal 470, do Mensalão, pelo Supremo Tribunal Federal, que condenou 24 dos 38 réus – alguns políticos importantes como José Dirceu e José Genoíno- a situação começou a mudar.

Ministro Dias Toffoli e o procurador-geral da República, Augusto Aras – Foto Orlando Brito

No mesmo ano surgiu a Lava Jato, que durou até Bolsonaro acertar os ponteiros com o então presidente do STF, Dias Toffoli, e com os políticos do Centrão, indicando Augusto Aras para a PGR, com a missão de enterrar de vez a força-tarefa.

Para não correr riscos de que novas operações voltem a desnudar as peripécias dos poderosos com o dinheiro público, o Congresso tem se utilizado da ideia do ex-ministro Ricardo Sales – na fatídica reunião ministerial de abril do ano passado-, para “passar a boiada” da impunidade, aprovando leis que não interessam à população, mas a eles mesmos, garantindo assim a impunidade para todos.

Assim, enquanto o povo de distrai com as maluquices de Bolsonaro e sua trupe, que todo dia cria uma confusão pra tumultuar o País, deputados e senadores aproveitam para se proteger e impedir uma nova Lava Jato.

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