A revolução conservadora

Bolsonao na rampa do Planalto - Foto Orlando Brito

O presidente Jair Bolsonaro disse hoje em frente ao Palácio do Planalto, enquanto acenava
a apoiadores aglomerados em frente ao local, que não vai mais admitir interferência em
seu Governo. Disse que “cumprirá a constituição a qualquer preço” e que as “Forças
Armadas estão com o povo” em meio a manifestações em Brasília contra ministros do
STF e o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM).

“Queremos a independência verdadeira dos três Poderes, não só uma letra da constituição.
Chega de interferência. Não vamos mais admitir interferência, acabou a paciência –
bradou Bolsonaro. Para quem achava possível deter a marcha golpista, aí está a evidência do autoengano.

Bolsonaro joga na instabilidade permanente; aposta contra aquilo que ele chama de
“sistema” para dizer-se impedido de governar. A verdade é que ele tem razão, ao menos
num ponto: o sistema ruiu. De fato, ele vem ruindo desde 2013 – ano das grandes
manifestações de protestos que eclodiram nas ruas.

Mas foi preciso mesmo esperar 2015 para que o país assistisse de vez o sepultamento da
Nova República. O impeachment parlamentar-midiático-judicial escancarou a fraqueza
da soberania popular ao afastar a presidente da República sem crime de responsabilidade.
A crise econômica se incumbiu de demonstrar aos setores econômicos mais abastados a
necessidade de mudança: era preciso desmontar os capítulos dos direitos sociais, do
trabalho e da seguridade social.

Era também preciso mexer no capítulo da ordem econômica. De fato, as seguidas reformas que se seguiram cumpriram o papel de retirar recursos da saúde, educação, seguridade social e investimento. Em contrapartida mais recursos foram destinados ao pagamento da dívida pública.

O fato é que a degradação institucional que se seguiu no Brasil parece não ter fim. A
manifestação de Bolsonaro de hoje foi mais um capítulo da sua guerra em movimento.
Ele sabe que precisa manter sua base de extrema direita viva. Sem obras, sem realizações,
com o desemprego crescente, ele sabe que precisa mobilizar permanentemente sua gente
para o golpe fatal. Enquanto as instituições não o deterem, ele prosseguirá.

Para isso ele conta com a fidelidade de seus seguidores. E eles têm dado. Nem a ameaça
do coronavírus foi capaz de conter até aqui o bando de fascistas que acompanha o
presidente. Não somente aglomerações e carreatas de apoio acontecem. Das diversas
partes do país veem-se sinais de ameaças e de violência contra opositores. Carreatas
desfilam barulhentas em frente a hospitais. Sobra indiferença aos doentes e àqueles que
perderam seus entes. Seus seguidores parecem dispostos a se imolar pelo líder Bolsonaro.
O que importa é dar sequência à sua revolução conservadora.

Não foram poucos os que acreditaram que o impeachment de 2015, a Lava Jato e as
eleições presidenciais renovariam os ideais republicano; não foram poucos os que
acreditaram que seria possível inaugurar um novo ciclo de desenvolvimento para o país,
de avanços sociais e econômicos.

Os descaminhos da política e a pandemia na saúde talvez nos mostrem mais cedo do que
nunca tivemos tão distantes destes ideais e tão longe de avançar assim.

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