A política no Brasil revela mais brigas do que um sério esforço para superação dos problemas

Jair Bolsonaro, Ricardo Salles e Luiz Eduardo Ramos - Foto Orlando Brito

Soa estranho quando o ministro das queimadas e do Meio Ambiente, Ricardo Salles, utilizou a internet, criada para ser um meio de comunicação civilizado, para xingar o ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Lemos. E o insultou duas vezes, por tê-lo classificado como Maria Fofoca, quando poderia ter sido menos cáustico e o xingado de Zé Fofoca. Mas vá lá, raiva não tem limite. Há mais tempo, o ex-ministro da Educação, Abraham Weintraub, hoje fazendo curso de gramática portuguesa em Miami, chamou os ministros do Supremo Tribunal Federal de vagabundos. Se cuida, Brasil. A chamada classe política dirigente seria para trabalhar pela elevação do país e de sua população a níveis construtivos e civilizados. Não para dar exemplos de grosseria e preconceitos.

O ministro Paulo Guedes e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia – Foto Orlando Brito
Jair Bolsonaro e João Doria discutem na teleconferência – Foto Divulgação/Presidência da República

Essa realidade  pode ser efeito da educação doméstica de cada um desses protagonistas  ou decorrente do exemplo de personagens hierarquicamente superior a eles, altas  autoridades. Esse papel é hoje desempenhado pelo Presidente da República, animado produtor de grosserias e palavrões. Mesmo numa reunião ministerial, com todo o governo  reunido, já houve palavrões e acessos de raiva do Presidente, que chamou o governador de São Paulo de bosta. E o do Rio, que está suspenso do cargo, de estrume. Palavreado chulo, característico de desrespeito. Com tantos problemas a solucionar, o clima na política e na administração púbica do Brasil é de brigas, insultos, provocações e bate-boca. Uma mixórdia. Basta acompanhar os fatos. O ministro da Economia, Paulo  Guedes, foi chamado  de desequilibrado pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia. Vai ter troco.

Bolsonaro com o Guaraná Jesus, no Maranhão – Foto Divulgação/PF

O presidente Bolsonaro tem uma tática de xingar e disfarçar depois. Ele julga um guaraná pela cor, e não pelo sabor. E evolui para supor a sexualidade de quem bebe. Insulta gargalhando. Boiola, kkk; bosta, kkk; p ….a,kkk;  s….a  kkk. Eu fiz uma brincadeira, mas o pessoal divulgou e alguns não gostaram, explica. Mas na verdade é isso mesmo, conclui  rindo novamente. Há quem gosta. Há quem não gosta. O gabinete presidencial no Planalto, desde sua inauguração, jamais foi brindado com vocabulário tão vasto e explosivo. No Alvorada, não. Lá é família.

Enquanto os vários membros do governo discutem e trocam agressões verbais, itens da maior importância para o país deixam de ser cumpridos. As reformas Administrativa e Tributária estão prestes a serem concluídas há algumas décadas. E quando chegarem ao Congresso ficarão por algum tempo em acaloradas discussões, até a aprovação do plenário. As privatizações seguem o mesmo descaminho. As empresas continuam estatais. O país e seus dirigentes, desarticulados. A pátria amada já avisou que não comprará vacinas contra coronavírus na China. Talvez compre, se precisar. E a China, em retribuição, pode deixar de comprar soja no Brasil.

Ministro da Saúde, Ricardo Barros. Brasília, 22/06/2016 – Foto Orlando Brito

Quando parecia ter passado o pior, o líder do Governo, deputado Ricardo Barros, tem uma ideia genial, e  trombeteia: Constituinte novamente. Em 1988 foi aprovada a atual Constituição, democrática, discutida em Assembleia Constituinte durante dois  anos. Será que esqueceram algo? Pena de morte, aborto, pagamento de impostos pelas igrejas , fim da reeleição, etc?  O parlamentar esclareceu que sua novíssima Constituição seria, simplificando, para tirar de quem tem e doar aos que não têm. Bolsonaro logo vai chamá-lo de comunista, venezuelano, ou neto de Fidel. Não existe praticamente nada mais de comunismo no mundo. O Itamaraty do pretenso poeta Ernesto ainda não notificou o presidente Bolsonaro que de comunista hoje, no mundo, só restam a Coréia do Norte, Cuba, e a múmia de Lenine, em Moscou.

O desrespeito vigente na política brasileira, no entanto, pode ser criminoso e merece tratamento punitivo. A deputada Flordelys, acusada de ter contribuído para o assassinato  do próprio marido continua solta. O caso se arrasta lentamente e a Flordelys será submetida à Comissão de Ética da Câmara, que vai decidir se ela é uma flor do mal ou uma flor do bem. Houve ainda o caso do Chico Cueca, senador que roubou o dinheiro que iria financiar o combate ao coronavírus em Roraima. O Chico descansa em casa, em  licença  concedida pelo Senado, e a vaga será ocupada pelo seu filho e suplente. Inseguro, ele foi tirar uma dúvida com o escolado papai:

Outra ilustração sobre o senador e a cueca: Charge do Céllus (cellus.com.br)

– Paiê, o que é que eu faço para não fazer nada no Senado e ganhar meu subsídio?

– Assuma o mandato, meu filho.

Assim o Cueca e a Flor, delinquentes, foram punidos pelo Congresso.

A índole  do  povo  brasileiro não é agressiva. A violência e o desrespeito mútuos destacaram-se no atual governo, com os exemplos vindos de patamares mais elevados.  Como tem acontecido pode dificultar a evolução de projetos e obras, devido à eventual incompatibilidade entre os responsáveis, adversários mas integrantes do mesmo governo. O problema não é insuperável, entretanto, bastando para isso a colaboração do Chefe do Governo. Em vez de disputas, grosserias e animosidades, união e disposição para trabalhar e superar os problemas que o país atravessa.

— José Fonseca Filho é Jornalista

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