A crença

O fanatismo da extrema-direita é maior que o populismo

Joaquim Roriz - Foto Orlando Brito
Sarney dirige um trator no Pericumã, em 1994. A fazenda foi seu refúgio na época da Presidência – Foto Orlando Brito

Joaquim Domingos Roriz era um político originalmente de Goiás, onde tinha uma carreira discreta. Eis que a flecha do destino o faz mudar de terreno. Com a agonia e morte de Tancredo Neves, assume a Presidência da República seu vice, José Sarney. O novo presidente tinha uma fazenda, o Sítio do Pericumã, no município de Luziânia, ao ladinho de Brasília e berço político da família Roriz.

Habilidoso e gentil, não demorou muito para que Joaquim se aproximasse do presidente, já que tinha uma terra lindeira a de Sarney. Ele não sabia – aliás, ambos não sabiam – que estavam traçando o futuro político do goiano. Um belo dia do seu mandato, o presidente fez uma reforma política e indicou Roriz para ser governador biônico do Distrito Federal. O último nessa condição.

A partir desse mandato, o goiano se transformou no maior líder político da recente e ainda curta história eleitoral de Brasília. O DF havia conquistado o direito de ter governador e representantes eleitos pela população. E Roriz não se fez de rogado, nadou de braçada, ganhou tudo que disputou e virou ídolo popular e populista. Ai de quem contestasse ou falasse mal dele; o pau cantava.

Apoiadores de Roriz – Foto Reprodução

Outra característica da idolatria foi, ou é ainda, uma crença fanática em tudo que ele falava e pregava. Todos os mandatos de Roriz foram marcados por denúncias de corrupção. Foi, inclusive, obrigado a renunciar ao de senador, que tinha acabado de conquistar.

Mas nada, nenhuma denúncia abalava o credo fanático no líder. Um cientista político, professor da UnB, tentou estudar o grau da devoção ao político. Não se sabe o resultado do estudo, mas ainda no meio período ele concluiu: se Roriz espancar a própria mãe, vão perguntar o que a impertinente senhora fez de errado.

Assim Roriz seguia nos braços de uma ampla base popular. Também chamava a atenção no estudo a crença na quase santidade do líder e a defesa feita com boatos gestados numa verdadeira fábrica de mentiras e versões. Definitivamente, o goiano encantava e fanatizava legiões.

Bolsonaristas – Foto Divulgação

A lembrança de Roriz me veio após ler algumas postagens e comentários dos fanáticos da extrema-direita. São públicos distintos: os seguidores de Roriz o adoravam. Os seguidores da extrema-direita até gostam do Bolsonaro, mas são fanáticos pelo ideário desumano, obscuro e defendido pelo olavismo. Tentam até disfarçar, porém são corvos que querem cegar a todos. E o pior, não há cura.

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