Presidente, os cadáveres são seus

Por sua conduta leviana, as mortes irão, sim, para a conta de Bolsonaro e vão assombrá-lo por muito tempo

Foto Orlando Brito

Quando a gente pensa que a capacidade do presidente Jair Bolsonaro em produzir absurdos chegou ao limite, ele consegue nos surpreender com algo ainda pior. Todo dia a usina de crise entra em ação para criar mais confusões e encrencas. Enquanto isso, os números de infectados e mortos pelo Covid-19 se avolumam provocando colapsos nos sistemas de saúde e funerário do país.

A reação de indiferença e deboche do presidente ao ser questionado sobre o número de mortos por Covid-19 no Brasil ter ultrapassado os cinco mil, revelou não apenas a sua incapacidade de governar – talvez por isso ele procure viver em confronto permanente – mas a sua total falta de sensibilidade.

Ao perceber que nem os robôs do chamado “gabinete do ódio”  conseguiram encobrir a indignação coletiva nas redes sociais com o seu “e daí”, o presidente tentou dividir a conta com governadores e prefeitos. “Não adianta a imprensa botar na minha conta essas questões que não cabem a mim. A minha opinião não vale, o que vale são os decretos de governadores e prefeitos”, afirmou.

Presidente, o senhor é sim diretamente responsável por essas mais de cinco mil mortes. E será também pelas que estão por vir, com o aumento da contaminação e o pico da doença, previsto para acontecer nos meses de maio e junho. Esses cadáveres vão para contabilidade da sua gestão e irão assombra-lo por muito tempo.

Bolsonaro e os filhos

Para comprovar a responsabilidade do presidente, basta lembrar o seu  comportamento ao longo dos últimos meses, o tempo todo negando a gravidade da pandemia. Bolsonaro e seus filhos fizeram de tudo para atrapalhar, não apenas o trabalho de governadores e prefeitos, mas o trabalho dos próprios integrantes do seu governo.

Foram inúmeras as picuinhas do presidente contra o seu ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, que ganhou credibilidade e popularidade ao defender as recomendações da OMS (Organização Mundial da Saúde), como o isolamento social.

O tempo inteiro Bolsonaro boicotou seu ministro da Saúde. Fez um pronunciamento em cadeia de rádio e TV para dizer que a Covid-19 não passava de uma “gripezinha ou um resfriadinho”; gravou vídeo defendendo o uso da cloroquina sem a certeza sobre a eficácia do medicamento.

Como se não bastasse, participou de manifestações públicas logo depois de chegar dos Estados Unidos, uma viagem na qual 25 integrantes da sua comitiva testaram positivo para o Covid-19; no final de março, quando começaram as primeiras mortes, circulou pelo comércio de  Brasília abraçando pessoas, fazendo selfies; e,poucos dias antes da demissão de Mandetta, comeu no balcão de uma padaria na Asa Norte que fica próxima a casa do ex-ministro. Enfim, barbarizou.

Por essas e por outras que não há como o presidente se eximir da culpa sobre essas mortes.

Maia e Mandetta no início da crise da Covid – Foto Fábio Pozzembom/Agência Brasil

Não satisfeito com a demissão de Mandetta, Bolsonaro passou a provocar o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, chamando-o para o ringue. Maia evitou cair na provocação, embora esteja com a mão coçando pra autorizar um dos 30 pedidos de impeachment acumulados em sua gaveta.

Esta semana, finalmente Bolsonaro conseguiu produzir uma crise política com a capacidade para ocupar as manchetes além do coronavírus. A demissão do ex-juiz Sérgio Moro, do Ministério da Justiça, criou um situação política tão grave, que os desdobramentos já começam a ser profetizados.

Com a autoridade de quem já experimentou da glória do poder à solidão da queda, o senador Fernando Collor, em entrevista ao portal UOL, sentenciou: “o impeachment de Bolsonaro é desenlace anunciado”.

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