Podcast IdealPolitik – 2020: o mínimo que você deve saber para não ser idiota

– Olá, tudo bem? Este é mais um podcast IdealPolitik, especialmente para Os Divergentes.

– 2019 acabou e preparamos uma retrospectiva do que falamos até agora sobre o reality show da política nacional, caso lhe possa ser útil para atravessar o tráfico de intoxicantes da mente, que estarão à disposição de todos no ano de eleições municipais. O convite que fazemos a você é trocar a luta pela hegemonia pelo despertar.

– O mínimo que eu acho que você deve saber é:

– 1) A confusão entre o desejo de como alguém gostaria que fosse a conjuntura, o wishful thinking, e como ela realmente se manifesta, e se conformar com uma política externa e inacessível ao indivíduo são, no mundo de hoje, as causas do sofrimento que leva ao divórcio das pessoas com a democracia.

– 2) A ilusão da dualidade entre representante x representado é causada pelo espelho distorcido do que nos tornamos: invertidos, corrompidos, manipulados, controlados, vendidos, comprados e não ensinados a demonstrar amor. O político corrupto, oportunista e demagogo, antes de tudo, tem que ser morto dentro de cada um de nós.

– 3) Moralidade não é o conjunto de maneiras que uma ideologia lhe sugere para locupletar desejos de terceiros, nem o que você acha que fez de certo em sua vida e, portanto, supostamente válido para todos. Não é fechar os olhos para os desvios da ideologia com a qual está apegado, mas buscar, no dia a dia, uma prática correta de princípios éticos que deveriam ser básicos, como não destruir gratuitamente a vida, não roubar, não mentir, não manipular (e não ser manipulado), a não-violência, a vida austera. Sua ação aqui e agora, onde pisam seus pés, fará a vida progredir ou regredir? Para qual dos dois destinos você quer construir condições favoráveis?

– 4) A História da humanidade é a história da esperança-frustração das pessoas e grupos com os desejos sugeridos por padrões de sucesso emanados do poder. É aqui que cresce a visão religiosa na política, para contrapor ao “tudo o que está aí” dos líderes tidos como enganadores algo maior do que eles e o sistema deles. Só que você pode manifestar a sua própria divindade na política, cessando a terceirização de sua responsabilidade social e da sua autorrealização.

– 5) O maior poder que existe na sociedade é o poder interior das pessoas para serem o governo. Você pode criar uma realidade alternativa à que os políticos querem criar com os jogos de narcisismo e poder. Um líder com um milhão de seguidores nas redes sociais só existe se você compartilhar, curtir, comentar e retuitar o conteúdo que ele cria. Se não, ele some, porque você é a política, não o líder. A persuasão, a negociação e a convivência com as diferenças não são exclusividade dos chefes de partidos, nem de executivos de empresas. É uma condição inerente a cada uma das pessoas.

– 6) Os acontecimentos políticos estão todos interconectados. Saber disso é o primeiro passo para você controlar o timing dos acontecimentos em vez de ser controlado pelo timing dos políticos. A sua interpretação dos fatos faz diferença porque se une à percepção de outras pessoas. Sua opinião ou voto farão diferença, pois o processo que leva a eles influencia e é influenciado.

– 7) No Brasil e no mundo, especialmente na América Latina, vai transbordando o desejo da sociedade de se libertar de todas as instituições políticas e sociais coercivas que impedem o desenvolvimento de uma humanidade livre. Livre da violência em sentido amplo. Dos que sofrem ao cometê-la e ao recebê-la. Se em reação a “tudo o que está aí” lhe dá a vontade imediata de mudar o Estado e o governo, o caminho pode ser simplesmente reaprender como governar seu bairro, sua cidade e sua nação.

– 8) Antes do politicamente correto x o politicamente incorreto, tem o respeito, a compreensão e as infinitas possibilidades do pensar com a própria cabeça. É o tratamento que dispensamos às pessoas, expert em bloquear gentileza, respeito, apoio, acolhimento e compreensão, que tem formado, em escala industrial, verdadeiros Coringas e estes tem se espalhado por todas as instituições e vida social.

– 9) Entre a revolução conservadora, a comunista e a democracia que convive com a fome, há um farol melhor: aquele que, mesmo em condições adversas, fez escolhas corretas. Ele está ao seu lado, encarnado como um parente, amigo ou colega de trabalho. Nem Lula, nem Rodrigo Maia, nem Bolsonaro são como você, pois cada ato nosso é único, assim como uma biografia inteira.

– 10) O Estado é uma ilusão para você não perceber que governo, povo e território, componentes básicos dele, são um só. Nós, seres humanos, que os criamos. A essência de qualquer establishment é governar você. Por isso, a vocação deles é convencê-lo a continuar terceirizando sua autorrealização e representação na política.

– 11) A hegemonia, velada ou aberta, na qual você é instigado a se engajar é só um conjunto de ficções coletivas compartilhadas entre pessoas, grupos e classes sociais para que a cúpula do movimento em questão possa conduzir o Estado pelo tempo em que dure esta força. Hegemonia exige consciência vinda de fora, o que não é consciência, é também ideologia. E por um motivo prosaico: alguém formulou aquela visão de mundo em seu lugar.

– 12) Como escreveu Gary Snyder, em 1961, no texto Anarquismo Budista, “Não há nada na natureza humana ou nos requisitos da organização social humana que intrinsecamente exijam que uma cultura seja contraditória, repressiva e produtiva de personalidades violentas e frustradas”. Para Snyder, as condições da Guerra Fria transformaram todas as sociedades modernas – inclusive a comunista – em distorcedores cruéis do verdadeiro potencial da humanidade. Se temos um clima de Guerra Fria voltando, é claro que, entre tantas ideologias, all you need is love.

– Em 2020, tenha fé: podemos superar as pragas, as ervas daninhas, as armas e os homens de mal nas cinzas de um carnaval sóbrio, e eliminar o carma negativo que se acumula sobre nossas consciências e vidas desde que nos desviamos de nossa essência e nos tornamos imbecis coletivos: romanos, cruzados, conservadores, progressistas, golpistas, globalistas e outras fantasias.

– E qual a nossa essência? No documentário A Revolução Altruísta, há algumas pistas: somos seres que conseguem, desde os três meses de idade, distinguir bem e mal, expressar senso de justiça e equidade, e se oferecer para sofrer no lugar do outro.

– No entanto, se preferir se acomodar entre os 47% dos haters de Lula ou dos 41% de haters de Jair Bolsonaro, deixe prosperar, como um seguro de vida, paz e amor, os que renunciarem ao fanatismo e a estreiteza de idéias; os que dedicam seus esforços para reconciliar as pessoas e resolver os conflitos.

– Time is politics

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