Para Gustavo Loyola, Bolsonaro optou por ser minoritário

O ex-presidente do Banco Central acha positivo o Brasil ter deixado para trás os governos "inóspitos" ao capitalismo. Mas critica o jeito do presidente Bolsonaro governar, que "não constrói consensos"

O economista Gustavo Loyola, ex-presidente do Banco Central - Foto: Agência Brasil

O ex-presidente do Banco Central, Gustavo Loyola, atribui o lento processo de recuperação da economia a erros cometidos na condução da política econômica e visão ideológica equivocada de governos do PT. “É hora de jogar na lata de lixo uma certa ideologia que prevaleceu no Brasil, que trabalhava contra os mercados e construiu uma situação em que o Brasil se tornou em um dos países mais inóspitos ao capitalismo”, disse Loyola.

Sua análise foi feita num evento que reuniu executivos de empresas do setor elétrico público e privado, como  Moacir Bertol (Copel), Eduardo Sattamini (Engie), Italo Freitas (AES Tietê), Mario José Ruiz (Neoenergia), Nicola Cotugno (Enel), entre outros.

Novo CEO

Gustavo Loyola recorreu à linguagem dos executivos para comparar a situação do Brasil a de uma empresa mal gerida. ”No Brasil, os CEOs anteriores foram muito ruins. A prova é a dificuldade para retomar o crescimento”.

Os benefícios da reforma da previdência, da reforma trabalhista, da redução das taxas de juros e de iniciativas adotadas para melhorar o ambiente de negócios poderiam estar ajudando mais neste processo de retomada dos investimento, não fosse o jeito de governar do Presidente da República.

“Jair Bolsonaro optou por uma agenda ideológica”, pontuou Loyola. “Optou por ser minoritário. Não constrói consensos. Esse modo bolsonarista de ser gera ruídos políticos. Isso amortece o impacto positivo da agenda econômica”.

Os presidentes Jair Bolsonaro, do Brasil, e da Câmara, deputado Rodrigo Maia.

Há, ainda, segundo o presidende do BC, “a fragilidade percebida pelos agentes econômicos, que é a dependência que o Governo tem da coordenação política do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e do presidente do Senado, Davi Acolumbre, para que esta agenda possa ser bem-sucedida no Congresso Nacional. Então, a articulação política do Governo, e mesmo a do presidente Bolsonaro, tem seus efeitos sobre as intenções dos agentes econômicos de investir”.

Previsões

No encontro, Loyola fez algumas previsões, que seguem resumidas abaixo.

Segundo ele, a retomada efetiva do crescimento em um patamar de 2,5% a 2,7% está assegurada com a agenda liberal e o efeito da queda das taxas de juros.

O Brasil não vai poder contar com “ventos favoráveis” da economia mundial que terá problemas de crescimento, especialmente pelas disputas comerciais entre Estados Unidos e China.

O Banco Central deverá continuar reduzindo as taxas de juros em patamares que poderão ficar inferiores a 5% em função dos baixos riscos da volta da inflação e da ociosidade da indústria.

O  dólar deve continuar valorizado em função do comportamento da economia americana, mas também pelo fato de que muitas empresas brasileiras que tomavam recursos externos estão se financiando com emissões de papéis privados no Brasil.

Loyola acredita que, à medida que a agenda do Ministro da Economia, Paulo Guedes, for sendo implementada, o Brasil poderá ter um crescimento na faixa de 3,5% ao ano. O  crescimento poderia ser maior caso o governo pudesse lançar mão de estímulos fiscais. Isso não é possível em função do elevado déficit público da União.

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