“O povo nunca assistiu passivo”, diz Edson Fachin sobre Além do Grito

O juiz Edson Fachin, do STF, leu e gostou da derradeira obra de José Severo, ex-colaborador d'Os Divergentes. Além do Grito relata o processo da independência do Brasil, que atravessou dez anos do século 19, de 1815 a 1825

Edson Fachin é juiz da Suprema Corte do Brasil - Foto: Orlando Brito
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O Ministro do Supremo Tribunal (STF), Edson Fachin, mesmo com seus afazeres diários na suprema corte, encontrou um tempo para ler  “A Independência Além do Grito – A Grande aventura épica do surgimento da Nação brasileira”, livro póstumo de José Antônio Severo, publicado em setembro deste ano pela editora JÁ, de Porto Alegre. Jornalista e escritor, José Antônio Severo foi colaborador d’Os Divergentes.

“O momento é propício para lembrar e relembrar que o povo brasileiro nunca assistiu passivo à exploração que sofreu. Tampouco aceitou em silêncio atos violentos”, comentou Fachin. Para ele, o autor demonstra de modo exemplar ter sido consequência de conflitos políticos no interior do país e a origem de muitas outras disputas que o Brasil precisou enfrentar para se consolidar como Nação.

“Vejo na obra uma percuciente e importante pesquisa histórica feita por José Antônio Severo, a merecer todas as nossas homenagens, porquanto relata que a Independência do Brasil não se resume ao ato de Dom Pedro I às margens do Ipiranga, ainda que se dê, ao então Príncipe Regente, as honras e o mérito de conduzir a Independência, mesmo no status de herdeiro do trono da colonização”.

E diz mais:

“Não há texto sem contexto, e Severo bem hauriu essa vocação quando registra que a insatisfação popular com a arrogância e intransigência da elite portuguesa nas negociações com representantes do Brasil foram fatores a provocar insurreições em diversos territórios da nova nação (Grão-Pará, Maranhão, Piauí, Ceará, Pernambuco, Bahia, São Paulo, Rio de Janeiro, Cisplatina) contra o domínio da metrópole. Demonstra-se aí a intensa participação do povo nessa luta, inclusive das mulheres”.

Visão artística da independência brasiliana diante de Portugal em 1822

Fachin ressalta a informação do livro segundo a qual, após grande derramamento de sangue, e não exatamente no dia 7 de setembro de 1822 – como fazem crer os livros didáticos de História – nos dois a três anos seguintes, nações importantes reconheceram a independência do Brasil e, em 1824, após a dissolução da Constituinte por Dom Pedro I, o Brasil tem outorgada a sua primeira Constituição. Um caminho aberto para se chegar a atual conjuntura da República, suas sístoles e diástoles.

Democracia racial piauiense 

José Antônio Severo, em foto de Tânia Meinerz

“Severo nos presenteia com uma lição sobre a democracia racial piauiense. Para a época, um escândalo, conforme narra à Coroa um funcionário Público português recém-chegado da Europa, vez que neste terreno (Piauí) todos têm a mesma estima uns pelos outros, sejam brancos, mulatos, pretos. Todos se tratam com recíproca igualdade e termina concluindo: “No Piauí tudo era diferente”.

O magistrado admite que comunga da visão segunda a qual revisitar a história do Brasil é sempre necessário. Reitera a importância da pesquisa com a finalidade de elucidar os fatos históricos, em especial os que possuem tamanha riqueza de detalhes.

“Severo deixou para a vida um legado que o faz eterno”, diz ao se referir ao escritor que morreu em 2020, depois de concluir a obra que serviria de argumento para uma  série sobre a independência do Brasil da TV Cultura de São Paulo.

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