O dilema de Paulo Guedes diante do coronavírus

O receituário liberal do ministro da Economia, Paulo Guedes, está em cheque. Por enquanto, o Posto Ipiranga terá que adotar o receituário keneysiano. Mas e depois, quando a crise sanitária passar?

Ministros Luiz Henrique Mandetta, da Saúde, e Paulo Guedes, da Economia - Foto: Orlando Brito

O ministro da Economia, Paulo Guedes, tem pela frente desafios da mesma magnitude do seu colega da saúde, Luiz Henrique Mandetta, de enfrentamento das consequências econômica do coronavírus, mas ainda não disse o que vai fazer para tirar o País do buraco. Guedes esta devendo um plano estratégico de recuperação do crescimento da economia, o que seria de grande importância para gerar confiança nos empresários e trabalhadores.

Ainda faltam dados sobre o tempo de isolamento social, mas o certo é que governo e a sociedade pagarão um preço alto pelos estragos na estrutura produtiva, na geração de emprego e renda dos brasileiros pelo menos neste e próximo ano.

Tudo indica que o modelo neoliberal de Paulo Guedes, de protagonismo da iniciativa privada para colocar a economia em crescimento, foi pro brejo. Os potenciais investidores privados estrangeiros e nacionais estarão mais preocupados em preservar o que restou de seu capital do que voltar a investir no Brasil.

Guedes terá que adotar o receituário keneysiano, como estão fazendo todos os países do mundo, e preparar seu plano de aceleração do crescimento com recursos públicos em investimento de infraestrutura, como esgoto e saneamento, para gerar demanda na indústria, nas empresas e empregos e renda aos brasileiros.

Quando todos voltarem às suas atividades não há segurança de que o Brasil retorne ao mesmo patamar de crescimento anterior a crise do vírus. É que o fator confiança fará que as pessoas sejam cada vez mais prudentes consumindo menos e gastando o essencial.

A fila do desemprego deverá aumentar trazendo reflexos como queda de consumo e necessidade de mais recursos públicos de apoio social. As empresas estarão se recuperando das perdas de receitas dos períodos em que ficaram paradas. Com poucos recursos em caixa e sem uma visão segura do comportamento de consumo, vão protelar investimentos que já estavam programados.

Os recursos liberados pelo governo para as populações mais pobres da sociedade, para as empresas pagar salários de seus empregados e ampliação dos serviços da área de saúde terão efeito praticamente neutro sobre o crescimento futuro da economia.

A Receita Federal a partir de abril já sabe que terá perda de arrecadação pela redução dos impostos pagos a partir de março em função da queda dos negócios das empresas e dos profissionais liberais prestadores de serviços.

Após todo este processo de injeção de dinheiro no mercado para socorrer pessoas e empresas, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maria, defende uma contabilização paralela às metas de ajuste fiscal de 2020. Mesmo assim terá que ser equacionado no futuro.

Alguém terá que pagar a conta já que “dinheiro não dá em árvore”, como dizia o ex-ministro da Fazenda, Mailson da Nóbrega. O governo terá que reduzir seus gastos ou aumentar os impostos, podendo fazer as duas coisas ao mesmo tempo, em um movimento monetário contracionista na economia. Tudo leva a crer que haverá pressão dos partidos de esquerda no Congresso para votação de impostos sobre as grandes fortunas, lucros e dividendos das empresas.

A prevalecer o atual comportamento do presidente da República de enfrentamento da crise do coronavírus e seus reflexos na economia, o governo terá muita dificuldade em aprovar projetos de seu interesse no Congresso. Hoje, todos os parlamentares estão aprovando tudo que o governo manda por saber que não há outra coisa a fazer diante da gravidade da crise de saúde pública.

Em condições normais a reação dos parlamentares seria outra, uma vez que estará diante de um presidente da república que deixou muito a desejar no seu papel de enfrentamento da crise do coronavírus. A queda de confiança e credibilidade em Jair Bolsonaro deverá criar problemas para o ministro da Economia, Paulo Guedes, na condução das atuais pautas: as reformas administrativa e tributária.

É aquele momento em que a política pode atrapalhar a economia. A oposição não vai perder a oportunidade de criar todo o tipo de dificuldade a um presidente da República enfraquecido que pode sair menor do que entrou na crise do coronavírus.

O interessante é observar que autoridades de diversos países e governadores e prefeitos aqui do Brasil estão ganhando projeção na mídia e acumulam prestígio pelas providência que estão tomando no enfrentamento da doença ao lado do povo.

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