Invasão do Capitólio: Trump inicia campanha para voltar em 2024

Com mais de 74 milhões de votos, o presidente Donald Trump não deve sair da política norte-americana e pode voltar à cena em 2024. Antes disso, em 2022, assistiremos no Brasil o presidente Jair Bolsonaro tentar o segundo mandato, a exemplo de sua fonte inspiradora na América do Norte

Donald Trump, presidente dos EUA, fala para seus apoiadores, em Washington, capital do País

Golpe de estado ou revolução nos Estados Unidos é uma análise apressada, que está animando os teclados dos notebooks dos comentaristas, mas que fica longe da realidade naquele País. Embora o destempero dos seguidores do presidente Donald Trump seja algo até então inimaginável, não têm força para derrubar governo ou abalar seriamente o sistema institucional daquele País. As bolsas revelam o quanto isto é grave e perigoso: zero.

Trumpistas invadem o Capitólio na tarde desta quarta, 6 de janeiro – Foto: Reprodução EuroNews

O próprio Mall (grande avenida diante do Congresso em Washington) já viu coisa pior em tempos contemporâneos, como as grandes marchas dos tempos de Martin Luther King ou dos hippies contra a guerra do Vietnã. Só que o pessoal ficou na porta. Quantos desceram a Avenida Pensilvânia? Pouquíssimos, comparados aos milhões daquelas manifestações dos anos 1960-70. Quantos estavam na frente do prédio?

Esta invasão da quarta-feira, 06, é o ponto fora da curva, como se diz hoje no Brasil. Alguns malucos forçaram a porta, a polícia do Congresso estava desarmada material e psicologicamente, os deputados e a segurança retiraram rapidamente os parlamentares da área e tudo acabou como acabou: uma grande palhaçada!

Ninguém duvida que Donald Trump vai pegar seu boné e entregar a caneta no Salão Oval para seu sucessor eleitor e confirmado, depois do esparramo. A novidade é que, pela primeira vez, uma candidatura de ex-presidente entrará no cardápio eleitoral daquele país. O atual presidente é um homem de comunicação, vai “causar”.

Quem conhece a América (que é o nome de fato do País, pois “estados unidos” designa sua organização federativa e “norte” sua localização geográfica) não se assusta. O que deve preocupar desses fatos são seus desdobramentos mundo afora, como disse o ex-embaixador do Brasil em Washington (1999-2004), Rubens Barbosa, presidente do Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior, talvez o mais categorizado observador da política internacional, por sua inserção como assessor e conselheiro de entidades relevantes e de grandes empresas brasileiras. Com sua habilidade diplomática, ele diz se preocupar com a influência do direitismo e populismo nas eleições europeias que se aproximam. Entretanto, o que ele quer dizer, mas não fala com todas as letras, é que essa tática poderá ser usada no Brasil.

O presidente Jair Bolsonaro e seu ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo – Foto: Orlando Brito

O silêncio do Palácio do Planalto é a verdadeira preocupação do diplomata. Entretanto, ninguém espera que no Brasil se repitam esses exemplos: aqui, o presidente Jair Bolsonaro é um forte candidato, altamente competitivo, sem necessidade de ir além da conta para se manter no topo das movimentações políticas. Pelo contrário: seus adversários é que ainda estão sem rumo definido. Segundo, a Justiça Eleitoral está muito firme no seu comando do sistema eleitoral. Terceiro: desde a República Velha que a confirmação dos resultados pelo Congresso Nacional não faz mais parte da legitimação de eleições no Brasil.

Portanto, tudo o que teremos pela frente deverá ficar no terreno da retórica e do proselitismo político, como deve ser numa democracia em evolução, como a brasileira. Nos anos 1950, fatos dessa natureza levaram um presidente ao suicídio. Dez anos depois o chefe do governo deposto foi para o aeroporto. Os dois que caíram na Nova República pegaram um táxi para voltar para casa. Avançou.

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