A exemplo de outros grandes movimentos cívicos, a “cartinha” em defesa da democracia que tanto assombra Bolsonaro começa nessa quinta-feira (11) a sair das arcadas para ganhar as ruas. Assim começaram as “Diretas, Já” que, em 1984, nocautearam a já trôpega ditadura militar. São sacadas históricas que primeiro unem em uma mesma causa pessoas que divergem em outras e, depois, mobilizam multidões.
A defesa do Estado de Direito, uma atribuição legal das instituições republicanas, é também direito e dever de todos. Em especial de quem, numa eleição singular, escolheu em 1986 deputados e senadores para redigirem em amplo acordo com a sociedade uma nova Constituição. Em sua promulgação, doutor Ulysses Guimarães a definiu como Constituição Cidadã e manifestou “nojo” a ditaduras.
O que mais impressiona no Brasil de hoje é relegar a segundo plano debates sobre soluções definitivas para tanta desigualdade social, acabar de vez com a fome no país que se arvora como celeiro mundial, e dar educação de qualidade e segurança para toda a população. E preservar florestas da Amazônia e de todos os outros biomas sem os quais nem aqui haverá futuro.
Infelizmente, até agora não é essa a principal pauta em debate. Jair Bolsonaro e sua trupe estão pondo a democracia na berlinda. Se esse movimento se limitasse ao cercadinho do Alvorada e a milícia digital comandada por Carlos Bolsonaro, o 02, talvez virasse apenas uma piada de mau gosto. Outros ingredientes dão muito mais azia.
O engajamento do ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira, nessa insensata campanha de Bolsonaro passou do limite. Ele simplesmente se arvora em cobrar um protagonismo nas eleições sem nenhum respaldo constitucional. Engrossa a voz nas falas com o Judiciário como se tivesse mais testosterona que todas as outras entidades e instituições que fiscalizam as eleições no Brasil. Puro delírio, estimulado por seu insano chefe.
Atua como chefe de meninos briguentos. Tome tenência, general!. O TSE descredenciou o coronel Ricardo Sant`Ana, com a justificada alegação de que ele propagava fake news contra as urnas eletrônicas nas redes sociais, o que desagradou o Exército pelo fato de não ter sido antecipadamente avisado. Uma queixa aceitável. Afinal, o comando do Exército acabou abrindo uma apuração sobre essa militância do coronel. Reclamou da falta de aviso prévio e resolveu não indicar um substituto.inistro da Defesa, general Paulo Sérgio e Jair Bolsonaro – Foto Orlando Brito
Mas o general Paulo Sérgio indicou outros nove militares e pediu mais uma semana de prazo para fiscalizar o código fonte das urnas eleitorais. O que procura o general? Na improvável melhor hipótese, um tiro no pé. A segurança do sistema das urnas foi um golaço com a participação da Abin e dos militares.
O medo real de Bolsonaro é que, perdendo as eleições, pode ir para a cadeia. Ameaça que também teme para os filhos. Mas, se continuar tentando virar a mesa democrática, essa hipótese fica ainda mais provável.
Se tivesse um mínimo de bom senso, Bolsonaro, que tanto imita Donald Trump, ao ver o que está acontecendo com o seu guru americano, deveria botar a barba de molho.
A conferir.