Deflação de preços indica fragilidade da economia

O que aparentemente é positivo, a queda da inflação, pode indicar uma economia que não reage à prolongada crise econômica. A deflação registrada em setembro pode indicar o pior: que os empresários não estão conseguindo vender bens e serviços

Assessores do Palácio do Planalto estão comemorando a deflação de 0,04% em setembro por acreditar em novas quedas nas taxas de juros em patamares nunca antes praticados pelo Banco Central (BC). A inflação acumulada de janeiro a setembro no governo do presidente Jair Bolsonaro ficou em apenas 2,49%.

O mercado financeiro acredita que fechará o ano em 3,43%, dentro da meta do BC. A equipe palaciana acredita que Bolsonaro já pode considerar como seu um título inédito, o do presidente que praticou as menores taxa de juros em ambiente de baixa inflação.

Com a queda dos preços apurados pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Ampliado (IPCA), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), seria um sinal claro de que a economia estaria indo tão bem ao ponto de permitir ao pessoal do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) promover novas rodadas de redução de juros em 2019 a um patamar inferior a 5%. Hoje, a taxa Selic é de 5,5%.

Paciente febril

Banco Central do Brasil – Foto: Orlando Brito

O aumento ou queda das taxas de juros é o principal instrumento utilizado pelo Copom para controlar a inflação dentro de uma meta estabelecida em lei de 4,25 % ao ano, com possibilidade de variar 1,5% para mais ou para menos.

A inflação, no entanto, funciona como um termômetro que vai medir a febre do paciente para aferir se está saudável ou não.

Enquanto a redução das taxas de juros pode contribuir para estimular o crédito para o consumo e o investimento, a queda da inflação para patamar negativo, ao contrário, pode indicar uma grande fragilidade da economia e um quadro recessivo.

É que a deflação explicita um desequilíbrio nas relações de consumo – ou seja, a oferta de bens e serviços no mercado se torna maior do que o número de clientes demandando por eles. Caso o ICPA continue caindo, podem se agravar ainda mais as expectativas de retomada de crescimento.

Os motivos para esta deflação de setembro estão presentes na nossa economia com possibilidade de queda de demanda de forma generalizada, como o elevado desemprego e a retração de investimentos empresarial. Mesmo com a aprovação da reforma da previdência na Câmara e no primeiro turno no Senado Federal, ao contrário do que previa o Ministro da Economia, Paulo Guedes, os investimentos não vem ocorrendo.

A equipe econômica, da mesma forma, não estrá tomando iniciativas que possam injetar recursos na economia e amenizar os efeitos do desemprego e da queda de renda da população.

Esperança

Ministro Paulo Guedes, da Economia – Foto: Orlando Brito

Um dos fatores que podem amenizar esta visão mais pessimista deste processo deflacionário no horizonte foi o comportamento de preços de alguns alimentos pesquisados entre 28 de agosto a 27 de setembro, que podem não se repetir daqui pra frente.

A deflação de setembro deve-se em grande parte à queda de 16,17% no preço do tomate, de 9,89% na cebola e 8,42% na batata. Os preços destes três produtos dependem em grande parte de fatores climáticos e oferta de produção.

Com a retração dos preços, os agricultores deixam de produzir e com isso cai a oferta no mercado e os preços voltam a subir. Outro fator a ser lembrado ao leitor é que nem todos os grupos de produtos tiveram queda de preços apurados pelo IPCA.

Os preços de itens de saúde e higiene tiveram alta de 0,07% e de vestuário 0,02%. Os preços dos combustíveis tiveram elevação de preços em grande parte dos 11 locais pesquisados no País pelo IBGE.

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