Como a leniência das oposições abre espaço para o golpe de Bolsonaro

As verbas milionárias do orçamento secreto seduziram e neutralizaram as oposições, que se tornaram cúmplices de um gigantesco casuísmo eleitoral

Sessão Solene - Promulgação das Emendas Constitucionais nºs 123, 124 e 125, de 2022 - Foto Waldemir Barreto/Agência Senado

Como diria doutor Ulysses Guimarães, os políticos brasileiros, inclusive os de oposição, estão fazendo piquenique na borda do vulcão. Atropelam a Constituição, as leis eleitorais e de responsabilidade fiscal como se não houvesse amanhã. O maior perigo é que, ao abrirem a porteira da legalidade por casuísmo eleitoral, pode tornar difícil fechá-la de novo em investidas contra as eleições e a democracia.

Luiz Inácio Lula da Silva, Ciro Gomes e Simone Tebet

Por mais que pareça à deriva, Jair Bolsonaro voltou a nadar de braçada. Lula, Ciro Gomes e Simone Tebet nem podem reclamar porque, por medo ou letargia, foram incapazes de propor e costurar apoios para alternativas legais para atender às agruras e miséria de boa parte da população.

Só o tal orçamento secreto, que beneficia deputados e senadores de todos os naipes, explica o porque de uma oposição calejada levar tantos dribles e gols. Parecem esquecer a partida principal para cada um se dar bem em sua própria várzea.

Ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira – Foto Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil

É nesse terreno baldio que mora o perigo. Nessa quinta-feira (14), o ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Oliveira, foi ao Senado e praticamente sem contestação usou o relatório de um coronel, que alega fragilidades nas urnas eletrônicas, para uma proposta que pode melar as eleições: a volta do voto impresso, já rejeitada pelo Congresso Nacional.

Jair Bolsonaro no Plenário do Senado Federal – Foto Waldemir Barreto/Agência Senado

Ele desfilou no Senado como autor de uma causa impositiva e vitoriosa de apuração paralela, um carimbo de desconfiança na justiça eleitoral, um sucesso internacional do Brasil. Onde estava a oposição?  Onde estavam os democratas que se dizem independentes?  O Congresso parece de cócoras diante de bravata de generais bolsonaristas que tentam manter o chefe Jair Bolsonaro no poder, mesmo se ele não tiver os votos necessários para isso.

No final da tarde da quinta-feira, a sessão do Congresso de promulgação da emenda constitucional (a tal dos R$ 41 bilhões) que atropelou a própria Constituição, virou palanque de Bolsonaro. Ele deitou e rolou. Seguiu o script da campanha com afagos em discurso eleitoral a mulheres e nordestinos, eleitorado em que toma sova de Lula. O chororô das oposições, em boa parte com as burras cheias com a grana do orçamento secreto, soou falso. Eles deram gás a um monstro. Tomara que consigam ajudar a contê-lo.

A conferir.

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