Agropecuária deve salvar crescimento da economia em 2020

Mais uma vez vem do campo a esperança de um PIB menos mirrado, ao qual os brasileiros estão sendo forçados a se acostumar. China e dólar ajudam a turbinar o agronegócio brasileiro

João Martins, persidente da CNA - Foto: Wenderson Araújo

O incremento das exportações de carne à China e a desvalorização do real diante do dólar estão elevando a rentabilidade do setor agropecuário e, em 2020, devem contribuir para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio em 3%. A expectativa é da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), entidade que representa os grandes, médios e pequenos proprietários rurais.

É uma considerável ajuda no esforço do ministro da Economia, Paulo Guedes, de tirar o Brasil da recessão, uma vez que a resposta do setor agrícola é rápida. São ciclos de produção de 4 a 6 meses, refletindo na índústria de equipamentos, insumos industriais e bens de capital.

As estimativas dos economistas da CNA são de que o Valor Bruto da Produção (VBR) da pecuária deve crescer 14,1%, devido ao incrementos nas exportações de carne e o consumo interno no ano que vem. A procura pela carne bovina fez com que os preços médios de US$ 4,6 mil por tonelada atingissem em novembro US$ 5,8 mil no mercado chinês.

Com isto, o preço da carne para os brasileiros também subiu e chegou a R$ 230 a arroba, um recorde dos últimos anos. O presidente da CNA, João Martins, acredita que os atuais patamares de remuneração dos pecuaristas servem de estímulo para elevar a produção. No próximo semestre, os preços da carne devem cair, mas dificilmente ficarão no patamar que estiveram antes da alta.

Bruno Luchi – Foto: Wenderson Araújo

O setor agrícola, no conjuto, terá crescimento mais modesto, de 7,2%. A soja, no entanto, deve render receitas aos produtores de R$ 165,2 bilhões em 2020 – um ganho de 14,1%, a se for confirmada a produtividade e os bons preços com o real desvalorizado. É um cenário muito positivo, semelhante ao verificado em 2015, quando o setor teve uma participação equivalente a 23% na formação do PIB, segundo o superintendente técnico da CNA, Bruno Lucchi.

Crescimento assegurado

Ainda há muitas incertezas sobre os impactos nos custos de produção, em função do dólar, sobre os insumos, assim como o resultado efetivo do que será colhido. Os insumos ficarão mais caros, mas os preços devem ser melhores.

Os custos financeiros caíram em função da redução das taxas de juros, especialmente para os grandes produtores. Os médios e pequenos tiveram um benefício especial de equalização de juros da ordem de R$ 10 bilhões.

Os produtores também foram beneficiados com R$ 1 bilhão de recursos do Tesouro Nacional para cobrir o seguro agrícola. Os custos para um governo quebrado é significativo, mas se o setor agropecuário de fato conseguir estimular o crescimento da economia, a Receita Federal poderá arrecadar mais no ano que vem e com isso contribuir para reduzir o déficit público.

Presidente da CNA, João Martins – Foto: Wenderson Araújo

João Martins acredita que o agronegócio deverá crescer de forma constante daqui para frente pelas conquistas de novos mercados. Assim, se os brasileiros no futuro não tiverem renda para consumir mais alimentos, os produtores terão no mercado internacional uma demanda assegurada a preços compensadores.

A estimativa é de que, em 2030, o Brasil estará produzindo 300 milhões de toneladas de grãos. A previsão baseia-se no aumento de produtividade e na incorporação de áreas de pastagens degradas do Centro-Oeste.

Colheita de soja – Foto: Wenderson Araújo

A CNA abriu escritórios em Xangai e em Singapura na busca pela ampliação de mais espaço no continente asiático para as seguintes cadeias produtivas: aquicultura, mel, lácteos, café, frutas, flores e hortaliças. A entidade acredita acredita que haverá um incremento das exportações agrícolas com os acordos Mercosul-União Europeia e Mercosul-EFTA (Suíça, Liechtenstein, Noruega e Islândia), fechados em 2019, e por conta da conclusão das negociações com Canadá e Coreia do Sul. Depende, também, da ampliação do acordo comercial com o México e o início das negociações com o Japão para abrir novos mercados aos produtos brasileiros.

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