Você sabia da origem das fake news? Veja a história da estátua falante de Roma. E de Eva e Adão

Estamos em Roma, no ano de 1501. O cardeal Oliviero Carafa encontrou esquecida em um canto do Palazzo Orsini, onde morava, uma estátua esculpida no Século III antes de Cristo. Era uma escultura que reproduzia a luta de Hércules contra o centauro. Apaixonado pela arte, o bispo determinou, então, que a assentassem na esquina de sua residência, na já famosa Piazza Navona.

Além de decorar o lugar, a imagem de mármore passou a ser também o local onde a população fazia suas queixas e comentários sobre acontecimentos da comunidade. Misteriosamente, em todas as manhãs, começaram a surgir afixados na calada da noite cartazes apócrifos, bilhetes, protestos, calúnias e fofocas, é claro. Puras fake news!

Nas proximidades da Piazza Navona havia um barbeiro chamado Pasquino, conhecido pela língua ferina. Fofoqueiro contumaz. Era um boateiro de primeira. Não tardou a estátua ser batizada com o nome do tal fígaro que adorava bisbilhotar a vida alheia. A estátua transformou-se em tribuna popular. Servia para difundir mentiras e verdades. E, sobretudo, distorcer fatos. A velha e histórica Roma passava a ter o cantinho da fofoca.

O tempo do cardeal Carafa passou e o hábito de se usar a estátua como plataforma de difundir as fake news virou tradição. Era, digamos, a tela computador de agora, palanque das notícias falsas que eletrizam milhões de internautas do planeta. Até hoje é espaço que os romanos utilizam para colar críticas contra o desempenho das autoridades e a reputação dos moradores da vizinhança. Evidentemente, nem tudo é notícia verdadeira. Acredite. Ou não.

Pois bem. Por representar símbolo de liberdade de expressão, foi o nome que Paulo Francis, Jaguar, Stanislaw Ponte Preta, Ziraldo, Tarso de Castro e Henfil deram ao Pasquim, o jornal-tabloide que foi sucesso editorial do Brasil nos idos de 1970 porque não media palavras para dizer o que bem entendesse. O Pasquim era lido por milhares de brasileiros. Era jornal referência de bom-humor, audácia e destemor jornalísticos na época do regime militar. Portanto, era leitura costumeira também para mim, jovem fotógrafo.

Em 1986, encontrei-me durante a cobertura de uma viagem presidencial ao Vaticano, com um casal de amigos que morava em Roma, ele correspondente d’O Globo, e ela lendária jornalista do Pasquim.

Levaram-me para ver o Pasquino de perto, a obra de arte que ficou conhecida como uma das estátuas falantes da Itália. Fica bem pertinho da Piazza Navona – onde, aliás, está localizado o Palazzo Pamphilli, a bela sede embaixada do Brasil. Evidentemente, não perdi a chance de fazer essa foto aí.

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Hoje, atualmente, dentre as “febres” que assolam o mundo, estão as chamadas fake news. Não há um de nós que não tenha lido, sabido e até acreditado em uma notícia falsa. Ou mesmo ter sido vítima de uma delas. Nas redes sociais da Internet então nem se fala. São uma constante dos novos tempos da Comunicação e que vão muito além do simples disse-me-disse, o popular fuxico.

Elas, contudo, existem desde as priscas eras de Adão e Eva. Aliás, tudo indica que o primeiro homem e a primeira mulher da História foram as primeiras vítimas de uma fake news. O Papa Francisco, há dois anos, alertou os jornalistas do mundo inteiro a terem cuidado com a difusão das tais notícias falsas. Referia-se à passagem bíblica, segundo consta, confiaram na verdade-farsa do demônio em forma de serpente que lhes ofereceu uma maçã para alcançarem a vida eterna. Nada. Pura onda. Foram ludibriados. Como rezam os livros sagrados, era mentira e o casal pioneiro acabou expulso do paraíso.

Em toda hora vemos nas telas da Internet uma enxurrada de boatos, intrigas e inverdades. Pelas mensagens trocadas nos e-mais, ouvindo e falando nos telefones celulares, nos zaps, pela televisão, jornais e rádio, por anúncios etc. As fake news tornaram-se grande preocupação e, por fim, seus efeitos causam danos morais, prejuízos materiais. Demolem biografias porque dão versões deturpadas do que acontece. E sobretudo do que não acontece. E a tal da pós-verdade também. Me lembrando aqui, o tema fake news até virou motivo para uma CPI no Congresso brasileiro.

Mais que isto, há processos nas altas cortes da Justiça em conclusão para decretar punição de nomes importantes da República por difusão das fake news.

Orlando Brito

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