Fotos fortuitas. Ou clima de paz do Natal

São raras, raríssimas, as minhas fotos que não contém a figura humana. Há muitos anos ando com minha profissão pendurada no pescoço mundo a fora e Brasil a dentro fotografando a chamada “seara do poder”, principalmente.

O foco de minhas câmaras está sempre voltado para as pessoas, homens e mulheres que gravitam o universo da política, o dia-a-dia da notícia. Diariamente fico reparando em gente muito importante, em gente que se acha importante e gente que não tem a menor relevância.

Sempre tive a maior admiração pelos colegas fotógrafos que fazem imagens da natureza. Me encanta as fotos de animais e lugares, dos temas ligados ao meio-ambiente. Impressionante a perfeição do trabalho deles, que nos põe de frente com a beleza da ecologia.

Pois bem, ontem bem cedinho, acordei e liguei a tevê para me atualizar com os acontecimentos, conferir os últimos fatos. De repente, a voz da apresentadora de noticias misturou-se ao som da algazarra de pássaros que faziam festa nas árvores em frente à minha janela. Era tão grande a farra das aves que corri para ver do que se tratava.

Pelo menos uma dúzia de periquitos fazia festa na copa das árvores a metros de minha vidraça. Enfeitavam ainda mais a beleza da manhã brasiliense, de sol forte, com a luz firme e definida do Planalto Central nessa época de dezembro.

Confesso que eu — sujeito acostumado com a rudeza do correr dos fatos reais, das fake news e do humor variado dos personagens que ponteiam minha vida de jornalista — fiquei perplexo com a imagem que um pequenino animal me oferecia. Com o bico e as minúsculas garras servia-se das sementes da flor de cor púrpura. Pétala por pétala.

Sorte minha ter deixado uma de minhas queridas câmaras Leica bem pertinho da janela. Puxei o zoom e fiz uma sequência de clics do ruidoso bando de maritacas. Quando o periquitinho verde serviu-se da semente da última pétala da flor, alçou voo em absoluto silêncio pelo céu infinito.

Tive a convicção de ter encontrado a imagem que sempre busco para desejar Feliz Natal. Torço para que a liberdade e alegria do veloz passarinho possam traduzir para nós seres humanos a beleza do que pode ser o Ano Novo que se avizinha repleto de incertezas e esperanças.

Orlando Brito

Deixe seu comentário