Chega ao Vaticano pedido para que Dom Hélder seja santo

Dom Hélder na Igreja das Fronteiras, em Recife - Foto Orlando Brito

Já está em poder do Vaticano os documentos que formam o processo de pedido para que o cardeal Dom Hélder Câmara — que foi arcebispo de Olinda e Recife durante mais de duas décadas — seja santificado. É, na verdade, a fase inicial do caminho necessário e tradicional que a Igreja Católica exige para que um cristão seja considerado beatificado e, depois, canonizado. Ou seja, ser santo.

A postulação que agora chega à Santa Sé, data de 2015, é do Frei Jociel Gomes. Fazem parte dos documentos enviados para análise em Roma em torno de duzentas páginas. São depoimentos, relatos, laudos, pareceres e testemunhos com detalhes de casos considerados milagres.

É conhecida a atuação do cardeal Dom Hélder, sempre em favor das causas sociais e assistência aos pobres. Ele foi também incansável na defesa dos direitos humanos e da democracia, sobretudo no período em que os militares governaram o Brasil, de 1964 a 1985. Por sua luta pela liberdade e justiça, chegou a ser indicado em 1972 para o Prêmio Nobel da Paz.

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Pelas leis do Vaticano, todos os cardeais — com exceção daquele que se torna Papa — são obrigados a se aposentar quando chegam à idade de 80 anos. Não foi diferente com o irrequieto Dom Hélder Câmara, arcebispo de Olinda e Recife por mais de vinte anos.

Dom Hélder Câmara já aposentado – Foto Orlando Brito

Em 1990, foi aposentado e teve de deixar para trás sua infatigável e ideológica vida religiosa. Alternava sua morada entre o imponente Palácio Episcopal e a pequenina e singela Igreja das Fronteiras, na Ilha do Leite, bairro da capital pernambucana. Até o momento de sua morte, em 1999, manteve a simplicidade que trouxe da infância pobre.

Nem mesmo quando morou na sede da Santa Sé, em Roma, Dom Hélder abriu mão da humildade e da modéstia. Para ele, o mais importante não era a ostentação e sim o combate às desigualdades sociais. Ainda que agora tivesse menor número de compromissos, acordava religiosamente cedo e celebrava missa diariamente, auxiliado por uma freira e um frade.

Depois, sentava-se em uma cadeira de balanço, sob a imagem de Jesus, para contar histórias e relembrar os tempos em que enfrentava o regime militar do Brasil, já que foi um dos seus principais contestadores, defensor dos direitos humanos e políticos.

Dom Hélder Pessoa Câmara nasceu no Ceará, onde ordenou-se padre. Foi um dos fundadores da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, entidade que representa a Igreja Católica no país. Além dele, também os “doms” Aloísio Lorscheider, Ivo Losrcheiter, Avelar Brandão Vilela, Antônio Batista Fragoso, José Maria “Pelé” Pires, Luciano Mendes e Paulo Evaristo Arns, entre outros, são considerados da ala liberal-progressista da Igreja.

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