Abertura dos Jogos Olímpicos: festa inesquecível seja onde for

Estádio Coliseu, em Los Angeles, 1984. A delegação brasileira eufórica com o decatleta americano Rafer Johnson conduzindo a tocha olímpica. Foto Orlando Brito

A competição nas Olimpíadas vai além da disputa entre os atletas nos campos, nas quadras, raias, piscinas e pistas. A cerimônia de abertura do maior evento do planeta é também atração especial. Especialíssima, aliás. Afinal, calcula-se que em torno de cinco bilhões de pessoas estarão de olhos no espetáculo levado ao mundo pela tevê. Os organizadores se esmeram para merecer a medalha da criatividade. Para isto, contratam coreógrafos famosos, artistas, gente adequada para abrilhantar a festa, torna-la um encanto, espelho de sua capacidade e cultura.

Nos Jogos de Pequim, em 2008, por exemplo, a responsabilidade pela beleza da festa foi confiada ao cineasta Zhan Zimou. O Estádio Ninho do Pássaro resultou um show impecável. Em Atenas-2004, os gregos fizeram bonito e jus à sua própria história. Montaram um espetáculo digno de orgulho, voltando no tempo. Tomaram como referência a primeira Olimpíada, realizada no remoto ano de 776 A.C. E mais, trouxe de volta a Odisseia de Ulysses.

Na Austrália, em 2000, Sydnei não ficou atrás. É só recordar a apresentação dos aborígenes multicoloridos que transformou o estádio em palco de uma grande ópera. Pura eloquência, com efeitos especiais, muita música e fogos de artifício. Em Atlanta, em 1996, a perfeição não foi diferente. Recorde-se que a tocha olímpica foi acesa pelo lendário campeão de boxe, Muhamaad Ali, logo após o discurso do então presidente americano Bill Clinton. Barcelona arrasou, em 1992. Para acender a pira, uma flecha luminosa cruzou os céu da arena de Montjuic, para encanto não somente dos espanhóis, mas de todos.

Nem todas as histórias, porém, trazem boas recordações. Em Munique, no ano de 1972, os Jogos ficaram marcados pelo bárbaro atentado terrorista durante a competição. Em Berlim, em 1936, a celebração tomou sentido ideológico. Hitler mandou espalhar pelo estádio grandes bandeiras com a suástica, símbolo do nazismo.

Ultimamente, como se tem visto, a tecnologia tornou-se fator indispensável para o brilho do espetáculo. Porém, não somente a beleza é importante, mas também as surpresas. E por falar em surpresa, não se sabe com precisão como será a festa de abertura dos Jogos do Rio. O segredo e o sigilo fazem parte da expectativa. Sabe-se que no dia 5 de agosto em torno de 50 chefes-de-estado estarão presentes, ao lado do presidente Michel Temer. As autoridades brasileiras se preocupam, obviamente, com a segurança não somente dos convidados de honra, mas também dos atletas, torcedores e, enfim, das pessoas envolvidas no grande evento.

Quanto à cerimônia de abertura dos Jogos do Rio, realmente sabe-se pouco. Sem dúvida, a performance das baterias das escolas-de-samba cariocas será sucesso garantido no Maracanã. Repetindo, sucesso garantido. Com certeza, haverá desfile de peças de nossa cultura e apresentação de artistas consagrados, embora não se tenha conhecimento exato de quais. Esperamos que tenham semelhante brilhantismo de Londres, em 2012. Os ingleses foram impecáveis. O show ficou por conta da fina flor do rock, a começar pelos Rolling Stones, Pink Floyd, Eric Clapton, Queen… E ainda, grandes atores a encenar James Bond, Harry Potter e Shakespeare. Para finalizar, Paul McCartney, estrela viva dos Beatles, pôs o mundo inteiro a cantar “Hey Jude”.

Mas quero falar de Los Angeles-84. Foi diferente. Voltou-se o foco para a individualidade, para a figura humana. O representante disto foi o decatleta Rafer Johnson, medalhista de ouro em Roma-60. Houve também demonstração de tecnologia, o voo do astronauta solitário movido por jato de gás. Entretanto, o que emocionou mesmo foi a corrida de Rafer conduzindo a tocha acesa percorrendo a pista de atletismo do Coliseu. Cena simples, sem nenhuma sofisticação tecnológica, mas que surpreendeu e produziu pura emoção.

Fazer cobertura de uma Olimpíada é sonho de todo fotógrafo. Num evento dessa grandeza, é essencial inteirar-se o máximo sobre o tema. Em Los Angeles, eu sabia que estar dentro do campo significava abrir mão de fotografar qualquer surpresa que pudesse acontecer longe de mim. Naquele caso, era melhor estar na arquibancada. De lá, eu teria domínio maior do estádio, visão mais ampla de tudo. O contrário de ficar preso, sem mobilidade, num cantinho de ângulo restrito. Do alto, eu tinha a opção de tomar fotos panorâmicas com uma grande-angular e trocar por uma teleobjetiva para detalhar o que fosse necessário. Fui ao guichê de credenciamento e troquei meu passe. Sorte minha. Pude retratar a euforia da delegação brasileira quando Johnson passou.

Bem, e sobre, afinal, qual dos nossos atletas irá acender a tocha olímpica dos Jogos do Rio? Não sei que nome você arriscaria. Eu apostaria em Pelé.

Orlando Brito.

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