Ilan Goldfajn não pode errar de mão com taxa de câmbio

Presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn. Foto Orlando Brito

O comportamento da taxa de câmbio, agora sob o comando do presidente do Banco Central (BC) Ilan Goldfajn, virou a principal preocupação de empresários e banqueiros, uma vez que a trajetória das taxas de juros já foi precificada pelo mercado.

O câmbio, que é um preço determinante na relação de troca da economia, vem ajudando hoje a alavancar as exportações, contribuindo para a retomada do crescimento.

Mesmo com US$ 370 bilhões de reservas internacionais intocáveis, a taxa de câmbio passou dos R$ 4,10 em janeiro de 2016. Com o governo do presidente interino Michel Temer, o dólar caiu para menos de R$ 3,48.

Apesar da queda da taxa nos últimos dias, os produtos brasileiros ainda são competitivos no mercado externo e a indústria nacional pode disputar o mercado consumidor interno com os importados.

Até os profissionais da área de câmbio do BC sabem que é muito difícil fazer projeções sobre a taxa de câmbio em cenários políticos e econômicos como os atuais.

Quando foi editada a Medida Provisória de criação do plano, a paridade do real versus dólar era de R$ 1,00 para US$ 1,00. Mas, ao contrário do que imaginavam, o real teve uma apreciação: O dólar chegou a valer R$ 0,84.  As chamadas bandas cambiais, instrumento criado pelo Banco Central, foram usadas para levar o câmbio ao que o ex-diretor de política internacional do Banco Central, Gustavo Franco, classificava de ponto de equilíbrio. Nunca foram revelados os critérios que levavam o BC a fazer ajustes na banda cambial. Provavelmente era no olhomêtro da autoridade monetária.

A realidade era que, com a estabilização dos preços e os efeitos de um ajuste fiscal consistente ancorado na Lei de Responsabilidade Fiscal, os investidores estrangeiros e nacionais passaram a ver um cenário econômico de longo prazo. O país passou a receber um volume de capital estrangeiro significativo de investimento direto e no mercado especulativo estimulado pelas elevadas taxas de juros e ganhos adicionais na troca da moeda estrangeira.

O desequilíbrio cambial dos últimos anos, na mesma proporção que inviabilizou a competitividade de amplos segmentos da indústria, deu um poder de compra à população nunca visto antes. O Brasil aos poucos foi ficando caro. Os preços dos produtos importados foram inundando as prateleiras dos supermercados. Produzir aqui ficou caro pelo custo das matérias primas, energia e da mão de obra. A classe média aproveitou para fazer a festa no exterior, trazendo em suas malas tudo que a área de sanidade animal não proibia.

É fato que o País acumulou reservas internacionais como uma estratégia de defesa de ataques especulativos. Ninguém sabe dizer se de fato era necessário um colchão de liquidez desta magnitude. O que era uma solução virou um problema que pode ser visto com uma conta simples de soma e multiplicação: os US$ 370 milhões estão aplicados no exterior a taxas de juros quase negativas e os dólares que foram trocados no Brasil por reais, na sua maior parte, tem um custo de 14,25% ao ano. É um custo de carregamento destas reservas que vai direto para o saldo da dívida do país, uma vez que não estamos conseguindo fazer superávit primário.

A decisão das autoridades monetárias de corrigir as distorções que foram acumulando ao longo de anos cria um ambiente estressante para devedores em moeda estrangeira, mas pode ser uma luz no final do túnel. A indústria nacional pode ganhar alguma competitividade. Os exportadores de soja, milho, carne bovina e demais commodities devem tirar alguma vantagem com a depreciação do real.

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