Por que raios um sujeito que já governou o Brasil por dois mandatos, e saiu do segundo com mais de 80% de aprovação, elegendo a sucessora, precisa de um “guru” na economia? A lógica indica que essa pessoa – que, além disso tudo, emergiu de 580 dias de cadeia para a liderança nas pesquisas – não precisa de gurus. Ou melhor, quem está mais para guru é ele mesmo, ao menos mais do que para seguidor.
A pressão de alguns setores, sobretudo da mídia, para que Lula revele logo o nome de seu futuro superministro da Economia – mais provavelmente, da Fazenda – só mostra que estão usando as ferramentas erradas para analisar as eleições de 2022, em tudo diferentes das de 2018, 2024, 2010, 2006 e, sobretudo, 2002, quando Lula se elegeu pela primeira vez.
Não temos mais no cenário, liderando as pesquisas, um desconhecido que precisa se explicar, ou apresentar cartas para acalmar o mercado e as elites, garantindo que não vai chutar o pau da barraca fiscal e nem dar calote na dívida. Isso ele já mostrou, na prática, que não faz – como não o fez em oito anos de governo, durante os quais o empresariado e o mercado passaram muito bem, obrigado.
Por razões políticas, não interessa a Lula, a nove meses da eleição, dar detalhes – que, ao que parece ainda nem tem – de seu programa de governo. Tem deixado claro que a embocadura será o social, que aposta no papel do investimento público para gerar emprego e crescimento, que vai revogar medidas liberais que, claramente, foram tomadas na hora errada – como o teto de gastos e a reforma trabalhista.
Tem, a seu favor, mudanças de foco que se verificam em outros países, como a Espanha, com sua iniciativa de mudar as regras trabalhistas, e até os Estados Unidos de Joe Biden, com seu inédito investimento de recursos públicos no bem estar da população. Mas daí a achar que Lula vai enveredar pela irresponsabilidade fiscal vai um longo caminho.
É só ouvir o que tem dito o próprio em todas as ocasiões em lembra os ensinamentos da mãe, D. Lindu, que todo mês controlava o orçamento familiar para não deixar ninguém gastar mais do que podia. Lula no governo foi assim e assim será, porque o pragmatismo está em sua essência.
Não existem dois Lulas nesta eleição – um Dr. Jeckill obediente às regras fiscais e um Mr. Hide radical de esquerda que vai tocar fogo no circo. Trata-se do mesmo sujeito que governou o país de 2003 a 2010, e distribuiu renda e melhorou a vida de milhões de brasileiros ao mesmo tempo em que obtinha superávits e acumulava alto nível de reservas.
A narrativa montada por setores do mercado e da mídia de que é preciso cautela com o petista e ver, antes de tudo, “qual Lula” assumirá em 2023 se vencer a eleição, é uma grossa mistificação. Uma tentativa de resgatar fantasmas e medos do passado para tentar tumultuar um novo cenário, quem sabe com o objetivo de ajudar personagens que, esses sim, representam a incerteza total, e não apenas em questões relacionadas à economia, mas à própria democracia.
Quem tem que se explicar, e botar de pé um programa de governo, é, por exemplo, Sergio Moro – que, até agora, muito acenou para as elites conservadoras repetindo clichês como “reformas”e etc, mas que não apresentou uma só proposta coerente com começo, meio e fim.