As imagens de alegres velhinhos britânicos sendo vacinados começaram a chegar ontem e têm enorme poder de fogo. Daqui para frente, vamos ser bombardeados, todos os dias, e cada vez com maior intensidade, pelo noticiário sobre os avanços da imunização contra a Covid-19 em outros países. É fato: quem teve competência e planejamento conseguirá oferecer a vacina à sua população nas próximas semanas. Aqui, tudo indica que, por um bom tempo, ainda continuaremos a ver navios – aliás, a ver governos e políticos brigando enquanto enterramos mais mortos.
O governador candidato João Doria sacou isso e foi rápido no gatilho da Coronavac. Talvez rápido demais, passando uma ideia de oportunismo político-eleitoreiro ao anunciar a vacinação em São Paulo a partir de 25 de janeiro, ainda sem perspectivas de autorização da Anvisa – já que os resultados da última fase dos testes sequer foram mandados para a agência. A própria Anvisa, que deveria ser técnica, reagiu politicamente com uma nota.
No dia seguinte, em bate-boca virtual com o governador, o ministro Eduardo Pazuello enunciou um absurdo e burocrático prazo de 60 dias para que a agência libere qualquer vacina – o que obviamente denota a má-vontade do governo com a CoronaVac de Doria. Que, aliás, segundo insisitiu o ministro, não é de Doria, mas do Butantan, como se isso fizesse alguma diferença.
Agora pela manhã, o Ministério da Saúde excluiu do rol de grupos prioritários para vacinação a população carcerária. Obviamente, tem dedo ideológico-bolsonarista nisso, assim como em todas as decisões e não-decisões que o governo vem tomando em relação à Covid-19. A ponto de praticamente todos os ex-ministros da Saúde do país nas últimas décadas terem se juntado para assinar um artigo em que chamam de desastrada e ineficiente a atuação do Ministério na pandemia.
O que mais colocaria lado a lado nomes como o petista Alexandre Padilha, o tucano José Serra e o demista Luiz Henrique Mandetta, a não ser a escandalosa inépcia do atual governo num assunto de vida ou morte? Pois é. Do jeito que o cenário vem ficando, com perspectivas de piorar, é razoável supor que, mais e mais, irá se acelerar a corrosão de imagem e popularidade do governo Bolsonaro.
Diferentemente do que pensavam alguns ao apontar o crescimento de Bolsonaro nas pesquisas graças ao pagamento do auxílio emergencial, a pandemia não terá sido boa para Jair Bolsonaro. Ao contrário: em 2021, sem dinheiro para retomar o auxílio nos moldes anteriores, e com a população vendo o mundo se vacinar e os brasileiros morrerem, poderá ser sua perdição.