Os interesses comerciais americanos na Venezuela e a democracia

Protesto nas ruas de Caracas

O presidente Donald Trump vem sendo questionado nos Estados Unidos por sua falta de apreço pela democracia. A mídia americana tem denunciado sua postura autoritária. Por isso, ele não deve ser tratado como o campeão na defesa da democracia. Nem este é o real motivo para sua intenção de intervir na Venezuela e derrubar seu presidente.

O governo brasileiro, cujo pendor democrático também é questionado por nossa mídia, também resolveu pedir a cabeça do presidente venezuelano em defesa da democracia. O Brasil costuma se dar muita importância. Mas vamos ao que interessa, os Estados Unidos. Os americanos têm contra sua intenção a China e a Rússia.

Donald Trump/Photo by Shealah Crajghead/White House

Ambos apoiam o governo da Venezuela. A China teria adotado esta posição devido aos altos investimentos que possui naquele país. A Rússia porque exporta produtos e materiais militares para a Venezuela. Fica combinado assim. Trump defende a democracia, Xi Jiping (China) e Vladimir Putin (Rússia) os seus interesses comerciais.

O campeão da democracia parece estar usando a Venezuela para pressionar a China a cumprir sua promessa de importar cerca de US$ 1,2 trilhão dos americanos. Se esta promessa for cumprida, até 2024, os chineses reduziriam seu saldo positivo na balança comercial com os Estados Unidos, que em 2018 foi de cerca de US$ 320 bilhões.

É para tratar disso que o vice-primeiro-ministro chinês, Liu He, estará nos Estados Unidos na semana que vem. Os americanos querem um plano detalhado de como os chineses cumprirão sua promessa. Ainda nesse contexto de pressão internacional, o governo americano promete que, em março, vai sobretaxar 1.300 produtos chineses.

Não é possível considerar os interesses comerciais americanos na Venezuela. Parece que o governo de lá é duro de dobrar. Foi por isso que os americanos, patrocinadores de tantos golpes no continente, passaram a defender a democracia. Mas devemos prestar atenção. Em dezembro, o secretário de Estado americano, Mike Pompeo, esteve no Brasil.

Foi recebido para um dedo de prosa pelo então presidente eleito Jair Bolsonaro. O americano reivindicou que o governo brasileiro colocasse um freio nos investimentos chineses no Brasil. Os nossos governantes aparentemente avalizaram seu pleito. Vocalizaram identidade de pensamento. Mas se o farão é outra coisa.

Saudada pelos americanos como a volta da democracia no Brasil, Jair Bolsonaro corre o risco de virar ditador de uma hora para outra. Ele já é chamado de inimigo da democracia pela oposição. Seu governo ampliou a possibilidade de documentos serem considerados secretos. Fica a pergunta: Se Bolsonaro não der um chega para lá na China, os americanos não passarão a tratá-lo, como a oposição, como um ditador?

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