Sumiram os vinhos da adega presidencial de Dilma

A todo vapor, uma equipe de servidores prepara a Granja do Torto, casa de campo da Presidência da República, na expectativa de que, durante seu afastamento do poder, a presidente Dilma Rousseff vá morar lá. Merece atenção especial os aposentos que seriam ocupados pela mãe de Dilma, por causa de seus problemas de saúde. Nessa arrumação geral, foi feito um inventário na adega em que deveriam estar 400 garrafas de vinhos nobres, apreendidos pela Receita Federal. Foram encontradas apenas 15.

Quando contaram a Dilma, ela teve mais uma de suas célebres explosões. Disse ser inadmissível e exigiu uma apuração para descobrir quem furtou os vinhos da adega. Não foi o primeiro caso de sumiço de preciosidades presidenciais. No governo do general João Figueiredo, conta Orlando Brito, o governador Antônio Carlos Magalhães costumava mandar para a primeira-dama Dulce Figueiredo uma caixa de cocada baiana, iguaria de Dinha do Rio Vermelho, famosa pelas excelências de acarajés e doces.

Pois bem. Sempre que recebia as cocadas, a mulher do general-presidente agradecia o presente. Por isso, Antônio Carlos estranhou o silêncio. Telefonou para a Granja do Torto, residência do general que ali ficava perto dos seus amados cavalos, e sondou: ” O que a senhora achou das cocadas ?”. A resposta não passou recibo. ” Muito obrigada, governador”. Desligou e rodou a baiana. Resultado: naquela mesma noite, um avião a jato voou de Salvador para Brasília com apenas uma encomenda — uma caixa de cocada de Dinha.

O general João Figueiredo na pista de esquitação da Granja do Torto: o presidente adestra um de seus cavalos com cubinhos de açúcar. Foto Orlando Brito
O general João Figueiredo na pista de equitação da Granja do Torto: o presidente adestra um de seus cavalos com cubinhos de açúcar. Foto Orlando Brito

A intenção do entorno de Dilma de usar a Granja do Torto como moradia e o Palácio da Alvorada como um bunker de resistência ao impeachment gera dúvida entre os próprios assessores presidenciais. Eles temem que isso possa ser questionado na Justiça. Na avaliação palaciana, Dilma tem direito líquido e certo a ser inquilina temporária no Palácio da Alvorada. Nem isso parece seguro. Em 1992, depois de ser afastado da Presidência da República, o plano de Fernando Collor era morar na Casa da Dinda, uma mansão de sua família às margens do Lago do Paranoá, e acomodar sua equipe de trabalho na Granja do Torto. Uma juíza federal do Rio de Janeiro proibiu que Collor usasse não apenas a Granja, como também o Alvorada, carros, helicópteros e aviões oficiais.

A Granja do Torto, criada para abastecer, durante a construção de Brasília, os moradores  com ovos e verduras, tornou-se uma referência do poder durante a gestão do presidente João Goulart, um fazendeiro que ali se sentia mais confortável do que no belo Palácio da Alvorada.

O marechal-presidente Costa e Silva também gostava de frequentar a Granja do Torto. Durante sua gestão na ditadura militar, eram famosas as rodas de biriba que  ali rolavam, organizadas por Iolanda Costa e Silva. Um dos habitués era o vice-presidente Pedro Aleixo, depois impedido pelos militares de suceder Costa e Silva na Presidência da República.

Alguns presidentes recorreram a Granja do Torto para eventuais encontros. Foi o caso de Fernando Henrique Cardoso que promoveu algumas reuniões. Mas quem sabe das coisas recorda-se especialmente de uma partida de futebol no campinho da Granja, organizada pelos então ministros Sérgio Motta e Paulo Renato. Nos bastidores dessa pelada avançava o movimento para aprovar a emenda da reeleição de FHC.

Em 2007, Lula e Dilma - ele então presidente da República e ela ministra-chefe do Gabinete Civil - na reunião com governadores, entre eles, José Serra, Eduardo Braga e Cássio Cunha Lima. Foto Orlando Brito
Em 2007, Lula e Dilma – ele então presidente da República e ela ministra-chefe do Gabinete Civil – na reunião com governadores, entre eles José Serra, Eduardo Braga e Cássio Cunha Lima. Foto Orlando Brito

Dilma já passou uma temporada por lá. Mas, depois de João Goulart e do general Figueiredo, quem mais curtiu a Granja do Torto foi Lula. Promoveu ali reuniões com governadores,  ministros, concorridas festas juninas, churrascos e animadas peladas, seguidas de cervejadas. Depois de um desses joguinhos, saboreando umas geladas,  Lula resolveu ouvir a roda de amigos sobre quem indicar para a vaga aberta no Supremo Tribunal Federal pela morte do ministro Carlos Alberto Menezes de Direito. Entre outros, consultou Luiz Carlos Sigmaringa, Dias Toffoli e o saudoso Jorge Ferreira, o Jorjão, craque na agitação cultural e nacriação de bares e restaurantes. Quem os servia era Moreninho, garçom de um dos bares de Jorjão que encantava Lula pelo bom humor e os malabarismos com a bandeja. “Nomeia o Toffoli”, surpreendeu Moreninho. Lula nada falou. Dias depois, indicou Tofolli para o Supremo.

 

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