Dia sim, no outro também, surgem novidades no escândalo das rachadinhas operadas por Fabrício Queiroz nos gabinetes parlamentares do clã Bolsonaro. Essas sucessivas revelações — a bola da vez é o impressionante trânsito de dinheiro vivo por uma franquia da loja de chocolates Kopenhagen a caminho das contas de Flávio Bolsonaro — deixam em pandarecos os nervos presidenciais. E expõem, mais uma vez, uma conhecida fraqueza de Jair Bolsonaro: quando sente medo, arrota valentia.
No auge de sua paranoia com a possibilidade de ser apeado do poder por alguma decisão do STF ou processo de impeachment no Congresso, ele abriu sua temporada de ataques destemperados ao Supremo e ao Parlamento. Por trás de suas ameaças, a mesma motivação de sempre: o pavor de que os rolos no passado recente da família Bolsonaro levem algum de seus parentes para a cadeia e/ou apressem o fim de seu mandato.
Quando ocorreu a prisão de Fabrício Queiroz, e com a mulher dele, Márcia Aguiar, tida como um fio desencapado, foragida, Bolsonaro, que há tempos namorava um acordão com ministros do STF e chefes políticos, resolveu acelerar o processo. Partiu para uma aliança explícita com o Centrão, trocou os insultos por elogios aos políticos, deu certo. Ganhou tempo e foi surpreendido com a rapidez em que a ajuda emergencial de R$ 600 para milhões de brasileiros resultou em apoio em setores da população que antes o rejeitavam.
Isso virou uma verdadeira lua de mel, especialmente com as recepções que tem tido nas visitas cada vez mais frequentes ao interior do Nordeste. O problema é que nem ele nem seus filhos Flávio e Carlos Bolsonaro, os 01 e 02, têm respostas para as comprometedoras novidades diárias no caso das rachadinhas em seus gabinetes parlamentares. Os advogados de Flávio repetem a cada acusação nova a alegação de que ele já deu todas as explicações ao ministério público. Não deu. Daí seus sucessivos recursos em todas as instâncias judiciais para escapar das investigações sobre as rachadinhas.
Carlos Bolsonaro não fala sobre a acusação de funcionários fantasmas em seu gabinete na Câmara Municipal do Rio de Janeiro. Desde a revelação de que os depósitos de Fabrício Queiroz e de Márcia Aguiar na conta da primeira-dama Michelle Bolsonaro foram no valor de R$ 89 mil, o presidente vinha evitando contato com os repórteres que acompanham seu dia a dia, para registrar suas atividades e tentar conseguir respostas nas entrevistas improvisadas, conhecidas no jargão jornalístico como quebra-queixos.
No domingo (23), em frente à Catedral de Brasília, um repórter de O Globo furou o cerco e conseguiu fazer a pergunta que todos esperam um resposta: Presidente, por que sua esposa Michelle recebeu R$ 89 mil de Fabrício Queiroz? Ao reagir dizendo que “minha vontade é encher tua boca com porrada”, Bolsonaro deu um tiro no próprio pé. Não vai se livrar dessa cobrança enquanto não providenciar uma explicação minimamente plausível para esses depósitos.
Mas o que mais chamou a atenção nesse lamentável episódio foi o ato falho do general Augusto Heleno, chefe do Gabinete de Segurança Institucional. Ele atribuiu o destempero de Bolsonaro a uma falha da segurança presidencial que não afastou o presidente antes de ele dar uma mal educada resposta a uma pergunta avaliada por eles como inconveniente. Quer dizer: a segurança, que tem como atribuição a proteção física do presidente, ganhou o papel extra de manter jornalistas afastados ou, no mínimo, avaliar que perguntas eles podem ou não fazer ao presidente Bolsonaro.
Os agentes da segurança presidencial, altamente qualificados para a proteção do presidente, passam a ser também uma espécie de babá do comportamento presidencial quando se deparar com jornalistas em suas saídas às ruas. Tem tudo para dar errado.
A conferir.