O tiro certeiro do decano contra o escárnio da aliança pela impunidade

O que está em jogo no STF é o acordão entre Bolsonaro, Lula e o Centrão para barrar a Lavo Jato

Celso de Mello, em 1989, ao assumir o Supremo, ainda jovem - Fotos Orlando Brito

Essa quinta-feira é um divisor de águas. Diferente dos que apenas buscam aplausos, o decano Celso de Mello se despede do STF pondo a prova seu conceito de justiça. Sua última pauta é a mais importante para um tribunal constitucional. O plenário do Supremo vai decidir, a partir de uma investigação sobre uma suposta exorbitância do presidente Jair Bolsonaro na Polícia Federal, até aonde vai o alcance da lei. Se vale igual ou não para todos.

Para quem se considera com todas as cartas na mão — Jair Bolsonaro e o Centrão, com o aval do PT e de toda a chamada velha política – poderia ser apenas um transtorno passageiro — causado por um velho doente, atormentado por seguidas licenças médicas, e compulsoriamente aposentado a partir da semana que vem. Sua saída de cena é motivo de inusitadas festas

Churrascos, pizzas, almoços e jantares em Brasília, além de festejarem a escolha de um substituto que consideram confiável para a vaga do decano, consagram uma santa aliança em favor da impunidade. Nunca antes todos estiveram juntos. O que sacramenta essa união, que põe no mesmo balaio Lula, Bolsonaro, Renan Calheiros, Aécio Neves e caciques de todos os naipes, é a guerra contra Sergio Moro e a Lava Jato.

A causa comum a todos eles é escapar da Justiça. Fizeram isso de maneira envergonhada ao longo do tempo. Desde a época em que o PT se apresentava como fiscal dos costumes. A  partir do momento em que petistas foram flagrados na boca da mesma botija, em que se descobriu também tucanos de bico grande, a extrema direita passou a nadar de braçada. Com toda política tradicional no sal, se sentiu à vontade para disfarçar seus aliados de toda a vida e pegar carona na Lava Jato.

Foi nessa onda que Bolsonaro surfou. Posou de paladino da moralidade enquanto seu clã engordava na multiplicação das rachadinhas operadas por Fabrício Queiroz. É esse passado sombrio o calcanhar de Aquiles que assombra toda a família. Foge das perguntas mais comezinhas. Por exemplo, por que Fabrício Queiroz depositou R$ 89 mil na conta de Michele Bolsonaro, mulher do presidente da República. É sobre a necessidade de respostas por quem se acha acima da lei que vai se tratar a sessão saideira do decano no STF.

Todos os protagonistas desse jogo já puseram suas cartas na mesa. O efusivo abraço de Bolsonaro com Dias Tofolli e a vibração de Renan Calheiros com esses novos tempos foram uma espécie de gozo antecipado. Nessa quarta-feira, Bolsonaro seguiu nesse mesmo pique. Numa cerimônia no Palácio do Planalto para anunciar medidas para a aviação civil, o presidente se jactou de não haver corrupção no seu governo. ” É um orgulho, é uma satisfação que eu tenho, dizer a essa imprensa maravilhosa que eu não quero acabar com a Lava Jato. Eu acabei com a Lava Jato porque não tem mais corrupção no governo. Eu sei que isso não é uma virtude, é obrigação”.

Belas palavras, se verdadeiras fossem. Bolsonaro apregoa a lisura em seu governo enquanto o loteia com o Centrão. O que o torna e a seu governo motivo de aplausos do Centrão, de Renan Calheiros e dos advogados de colarinho branco é a passarela que abrem em todas as frentes para a impunidade seguir desfilando. Esse jogo antes dissimulado agora é escancarado. Causa vergonha no STF.

O que se espera nessa quinta-feira, última sessão deliberativa com a presença de Celso de Mello, é que o escárnio com a Justiça, com a contribuição de Gilmar Mendes e Dias Toffoli, receba uma censura ampla, geral e irrestrita.

A conferir.

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