O bisonho método Bolsonaro de iludir sua militância com medidas ilegais

Bolsonaro aproveita suposta trégua com o Congresso e o STF para tentar maquiar a contabilidade dos mortos na pandemia e acabar com a autonomia universitária

Bolsonaro com admiradores na porta do Alvorada - Foto Orlando Brito

Nada a ver com a incompetência de sua assessoria. O presidente Bolsonaro toma decisões, assina decretos, medidas provisórias e projetos de lei sabendo antecipadamente que são ilegais, e, por causa disso, terão vida curta. Elas servem tanto como satisfação a sua base de militantes quanto moldura, quando pinça uma ou outra, para tentar convencer militares e outros alvos de sua pregação de que sua gestão está sendo cerceada pelos demais poderes.

Os generais de Bolsonaro: Ramos, Braga, Mourão e Azevedo – Foto Orlando Brito

Nesse método de governar as rasteiras não cessam nem nos momentos em que Bolsonaro, aparentemente enquadrado, reduz o tom bélico. Depois de crescentes tensões, há quase dez dias os bastidores políticos em Brasília comemoram uma relativa distensão entre os poderes. O que efetivamente mudou? Os dirigentes do Congresso e do STF, depois de conversas com o ministro da Defesa, general Fernando Azevedo, e alguns outros interlocutores militares, fingem acreditar que a bola baixou.

Para o clã Bolsonaro, essa aparente calmaria primeiro serviu para estimular queixas no próprio quintal. O guru Olavo de Carvalho, por exemplo, aproveitou para cobrar uma fatura ainda maior. Pelo menos seus mais leais discípulos no governo ampliaram seus poderes. A verificar o resultado da cobrança explícita de grana em seus protestos que, entre os empresários bolsonaristas, parece ter dado xabu. Não se sabe ainda o que pode pingar de dinheiro publico nos múltiplos negócios de Olavo de Carvalho.

Fãs de Bolsonaro em manifestação na Esplanada – Foto Orlando Brito

Se baixou o tom dos discursos, Bolsonaro ampliou as maluquices em sua caneta presidencial. Primeiro tentou mudar, com a ajuda do general de plantão no Ministério da Saúde, a contabilidade de casos e de mortos pela epidemia do novo coronavírus em um golpe de mágica para reduzir seus espantosos números. Pegou mal aqui e no mundo inteiro. Resultado: desmoralizou um serviço que há décadas o Ministério da Saúde presta com o reconhecimento da sociedade, da comunidade científica e dos mais respeitados organismos internacionais. Foi obrigado pelo STF a voltar atrás, mas mesmo assim toda a imprensa hoje opta por divulgar os dados de uma apuração paralela.

O que o governo ganhou com isso? Na ótica da parcela, digamos, mais sensata do Palácio do Planalto só perdeu. Mas, na avaliação do clã Bolsonaro, serviu para alimentar em suas redes sociais o discurso para a própria militância de que a epidemia é muito menor do que a imprensa, a comunidade científica e os organismos internacionais vendem para o mundo inteiro. Quem sabe cola para quem já engole que a Terra é plana e outras baboseiras.

Bolsonaro com Weintraub – Foto Orlando Brito

Mas Bolsonaro ousou mais. Nessa quarta-feira, espantou o país com uma medida provisória que autoriza seu ministro da Educação, o maluquete Abraham Weintraub, a escolher substitutos dos reitores de universidades em final de mandato país afora, a pretexto da pandemia do Covid-19. A “gripezinha” virou munição de alto calibre para a “guerra cultural”, principal bandeira do guru Olavo de Carvalho.

Ninguém em sã consciência apostaria que uma rasteira tão primária na autonomia universitária, um valor conquistado e estabelecido ao longo do tempo, poderia dar certo. Nem os broncos Bolsonaro e Weintraub. Mas a dupla bancou a MP para regozijo de seus fanáticos apoiadores. Como todo mundo, eles sabem que é mais uma medida com vida curta.

A única dúvida em Brasília é quem primeiro vai abate-la, se o Congresso ou o STF.

A conferir.

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