Arthur Lira - Foto Orlando Brito

Na política, como em outras atividades humanas, a capacidade de virar o jogo sempre fez a diferença. Ás vezes, significam avanços; outras, atrasos. A velha e batida correlação de forças continua dando as cartas. Mesmo os flagrados em delitos ou que se encolheram para escapar de punições, mudam de postura quando fica evidente a mudança de maré.

Por mais que pareça desconectada, a reação é sempre em cadeia. Há tempos, costura-se acordões entre forças dos mais variados naipes, em todos os poderes, para brecar o avanço das investigações por órgãos do Estado sobre a generalizada corrupção política e a promiscuidade entre as elites econômicas e poderes públicos. Por várias vezes bateram na trave.

Mesmo quando sentiram um gostinho de sucesso esbarraram em algum obstáculo da opinião pública — ou publicada, como gostam de minimizar — e não conseguiram resgatar a velha e eterna impunidade que fazia de seus negócios e carreiras políticas em todos os poderes um privilegiado jogo à parte.
Por mais que eles brigassem e se denunciassem, o alcance das leis no máximo deveria tirar o adversário do páreo. Até porque quem hoje acusava um eventual desafeto de ladrão poderia ser seu parceiro amanhã. E esses desacertos e alianças se estendiam a todos os outros poderes — da polícia aos tribunais.
A Constituição de 1988 deu asas ao Ministério Público, à Polícia Federal e a outros órgãos estatais para voarem na defesa do respeito à cidadania e ao interesse público. Virou um aprendizado com altos e baixos. A corrupção política passou a ser exposta. No quesito punição, o julgamento do Mensalão virou um marco. Abriu caminho para  voos mais ousados como a Lava Jato, que, entre outras coisas, escancarou o maior esquema de corrupção da história. Isso é fato.
Ex-deputado Eduardo Cunha.
Ex-deputado Eduardo Cunha.

Como também é fato que a Lava Jato entrou na berlinda desde que abriu o leque de corruptos além dos supostos de sempre. Simplesmente todos os grandes partidos caíram na rede. Quando o peixão foi Eduardo Cunha, então todo poderoso presidente da Câmara dos Deputados, aplausos gerais. Quando mega empresários como o clã Odebrecht,  Lula e Aécio Neves, só para exemplificar, entraram na roda, ela começou a emperrar. Só não deu xabu pelo imenso apoio popular.

Por erros próprios, em grande parte motivados por arrogância e soberba, e outras falhas fabricadas por seus adversários, há algum tempo a Lava Jato sangra. Quando o cheiro desse sangue chegou as narinas dos três poderes em Brasília, além de alguns  atuais puxadinhos como a Procuradoria-Geral da República, motivou uma corrida de quem chega primeiro.
O PGR Augusto Aras – Foto Orlando Brito

 

Há um desmonte da Lava Jato e das grandes investigações sobre corrupção em todos os poderes. O problema de se abrir uma porteira como essa é perder o controle do que se quer passar. Ministros do Supremo mordem dali, o procurador geral da República, Augusto Aras, dá suas dentadas, e a trupe que chegou ao comando da Câmara com Arthur Lira resolveu liberar todo o rebanho. Foi tão escancarado que bateu de frente até com os parceiros na própria Câmara e nos outros poderes.

Deputado bolsonarista Daniel Silveira – Foto Orlando Brito

Pelo script original, bancado por Lira e por seu parceiro Ricardo Barros, líder do governo na Câmara, há um combo em jogo. A tentativa na primeira tacada era aliviar a Lei da Ficha Limpa, criar obstáculos a punições judiciais de parlamentares e impor barreiras a prisões de deputados e senadores. Pelas novas regras, seria praticamente impossível uma nova prisão como a do deputado Daniel Silveira, mantido preso em uma decisão dos 11 ministros do STF, com o aval da Câmara dos Deputados. Até Daniel Silveira entendeu o jogo ao se dizer boi de piranha para boiada passar.

Deputado Ricardo Barros, lider do governo na Câmara – Foto Orlando Brito

Além desse verdadeiro habeas-corpus preventivo para todo e qualquer parlamentar, e dos bodes como o da ficha limpa já retirados, o combo da impunidade, como vem defendendo Ricardo Barros, cerceia também a Lei da Improbidade Administrativa — um marco no combate à corrupção país afora — e revoga a proibição ao nepotismo.

É essa ganância em revogar todos os avanços legais no combate à corrupção e à má gestão no país que começa a provocar forte reação para barrar todos esses retrocessos.

A conferir.

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