A dificuldade de Temer desenrolar o próprio novelo

A equipe com que Michel Temer começará seu governo está praticamente pronta. A intenção de uma significativa redução de ministérios, concebida como um sinal de austeridade para a sociedade, não resistiu a realidade política. O discurso de um ministério diferente, com a escolha de “notáveis”, em cargos como os Ministérios da Saúde e da Educação, murchou. A prioridade agora é uma só: obter ampla maioria na Câmara e no Senado para governar e aprovar as propostas essenciais para o sucesso dessa administração.

Para uns, é pouco. Mas, para outros, talvez seja o necessário para tirar o país do fundo do poço em que a gestão petista o afundou. O problema é que, mesmo para metas mais modestas, a condução política às vezes atrapalha. A crença generalizada é de que quem foi competente para derrubar o governo também seria eficaz para compor uma nova administração. O anseio da população, o desgaste dos políticos, e a balbúrdia generalizada facilitariam.

No mundo real dos políticos, na Câmara e no Senado, esse enredo não agradou. Mas, por falta de opção, eles toparam encená-lo para ver até aonde iria. Durou pouco. Mais precisamente, até Michel Temer piscar na montagem da equipe de governo. Ele cedeu a alguns aliados, recebeu a fatura de outros tantos. Aí ficou difícil fechar a conta. O enxugamento virou esticamento do ministério. Mesmo assim, alguns pontos ficaram fora da curva. A contabilidade com o PP, por exemplo. É até compreensível que o acerto com o partido, com votos decisivos no processo de impeachment na Câmara, tendo usado esse cacife para barganhar com os dois lados, tenha recebido promessas de tratamento especial.

Mas, deixar esse débito tornar-se um elemento desestabilizador da escolha do ministério é inexplicável. Aos fatos. Antes da votação na Câmara, o PP saiu de conversas com o ex-presidente Lula, em um hotel em Brasília, dizendo ter recebido ofertas de mundos e fundos para salvar o mandato de Dilma Rousseff. O partido já comandava o cobiçado Ministério da Integração Nacional. Além de mantê-lo, ganharia também o Ministério da Saúde e a presidência da Caixa Econômica Federal.  Com tudo isso, o PP mudou de lado.

Esse cavalo de pau, claro, teria um preço. Aí começa a confusão. No primeiro desenho do novo governo havia um espaço para gente notoriamente gabaritada em setores sensíveis,  como a Saúde e a Educação. Impressionante que políticos com tantos anos de estrada em algum momento acharam que, com devidas recompensas, o PP seria barriga de aluguel no Ministério da Saúde. Ao mesmo tempo em que fingia concordância no Palácio do Jaburu, o PP detonava o cirurgião Raul Cultait, sonho de consumo do entorno de Temer, com as justificativas mais disparatadas. Por exemplo, nas rodinhas no plenário da Câmara, diziam, com a cara mais limpa, que seria um desgaste apoiar Cultait por causa de seu conservadorismo — a oposição a avanços como o SUS e os Mais Médicos, por exemplo.

Os profissionais da política que assessoram Temer se apressaram em resolver o problema. Ofereceram o cobiçado Ministério da Agricultura ao PP. O partido agradecidamente aceitou. Contabilizou, no entanto, como mais um agrado aos prometidos Ministério da Saúde e Presidência da Caixa Econômica. Foi a deixa para todos aliados elevarem os preços do apoio, inclusive os que juram desinteresse por cargos.

O maior impacto, porém, foi no próprio PMDB. O discurso costurado no Jaburu é de que o partido terá o presidente da República, a cozinha do Palácio do Planalto e as presidências da Câmara e do Senado. Portanto, nada mais natural que houvesse algum desapego no rateio com aliados. Mesmo não gostando, a turma do PMDB que não estava dentro e nem fora foi levando. Mas, a generosidade com o PP e a inclusão de última hora dos ex-ministros Helder Barbalho e Henrique Eduardo Alves entre os ministeriáveis conturbou o quadro.

Agravou a situação o fato de o dividido PMDB mineiro, segunda maior bancada do  partido na Câmara, depois de uma conversa com Temer, proclamar que vai receber um ministério de primeira linha, tipo Educação. Pode ser blefe. Mas até quem já estava contente, como o PMDB do Rio de Janeiro, agraciado com o Ministério dos Esportes, e o grupo pró impeachment, que emplacou o qualificado deputado Osmar Terra no Ministério do Desenvolvimento Social, voltaram a rever o jogo. Partida que segue.

 

 

 

 

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