Caso Lula pode abrir a porteira para corruptos flagrados pela Lava Jato

O establishment político aposta em anular os processos contra Lula como passaporte para anistia aos políticos e grandes empresários acusados, réus e condenados por corrupção

O julgamento na enésima instância sobre a penca de processos por corrupção e lavagem de dinheiro contra Lula, em especial o tríplex do Guarujá e o sítio de Atibaia, virou a grande aposta de corruptos de todos os naipes para uma espécie de anistia geral. Gostem ou não os devotos de todos os credos.

Nesse jogo, se houve ou não assalto aos cofres públicos não pode virar um mero detalhe. Com o aval de todo establishment político, o  que se tornou discussão exclusiva no STF é se os investigadores — mesmo com base em supostas provas que antes consideravam ilegais — se excederam, foram além de suas atribuições legais. Se assim o fizeram, merecem ser punidos. Se a soberba dos procuradores de Curitiba violou a lei que paguem.

Lula, Cunha e a Lava-Jato

Mas não podem obscurecer o que foi apurado à luz do dia, comprovado em fatos ratificados em várias instâncias, com o propósito de apagá-los por uma borracha supostamente suprema sem sequer serem avaliados pelas canetadas que os tentam descartar. Se há dúvida que se separe o joio do trigo. Os interesses em jogo são muito maiores que o caso Lula em si. A grande aposta é na abertura de uma porteira que livre poderosos políticos, empresários e grandes burocratas em crimes que foram flagrados.

Ex-governador Sérgio Cabral chega à cadeia – Reprodução da tv

Em seu parecer como relator, o próprio ministro Gilmar Mendes já abriu o leque para tentar também enquadrar a Lava Jato no Rio de Janeiro, onde, aliás, tem atuado intensamente contra as punições a empresários e políticos locais. Não custa lembrar que ali, sob a batuta de Sérgio Cabral, Eduardo Cunha e Jorge Picciani, durante décadas a corrupção correu solta. É fato público e notório que  as investigações apenas as confirmaram, apesar de algumas delas terem sido barradas por Gilmar Mendes e outros ministros que seguem a mesma toada nos tribunais superiores em Brasília.

Os ministros Gilmar Mendes e Ricardo Lewandowski – Foto Orlando Brito

Evidente que se confirmado o entendimento de Gilmar Mendes e de seu colega Ricardo Lewandowski de que a Lava Jato foi o maior erro judiciário na nossa história, tudo tem que ser anulado. Tem que zerar tudo. É nisso a aposta de corruptos de todos os naipes políticos – os investigados, réus ou condenados. Eles e seus advogados acreditam nessa trilha para escaparem da Justiça. Tem um longa fila à espreita.

Diferente do que eles alegam, independente de filigranas jurídicas justificadas ou não, a Lava Jato e outras grandes investigações na berlinda abriram a maior caixa preta da corrupção na história do país. Uma corrupção estrutural e sistêmica. Isso é um fato incontestável. Tem que ser punido.

Não dá para empurrar de novo, e como sempre, tudo isso para debaixo do tapete.

A conferir.

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