Cai a última trincheira de Dilma

Leio aqui e ali referências aos movimentos sociais como a última trincheira da presidente Dilma Rousseff. Não é bem assim. Primeiro, porque não são “os” movimentos sociais, mas parte deles — há quatro centrais de trabalhadores, inclusive a Força Sindical, apoiando o impeachment. Onde os dois lados investiram pesado neste domingo, como São Paulo, com shows musicais e até sorteios de carro, teve gente. Mas, país afora, os militantes de sempre foram às ruas, a impressão é de que em menor número do que o habitual.

Os petistas e aliados prometeram grandes mobilizações contra “o golpe”. Ensaiaram até uma espécie de 13 de março de 1964 — comício histórico do ex-presidente João Goulart na Central do Brasil, que precedeu sua derrubada pelo golpe militar — no Vale do Anhagabaú, em São Paulo, na comemoração do Dia do Trabalho. Naquela noite Jango optou por um lado ao apoiar as chamadas reformas de base. Pode ter apressado a sua queda.

Dilma em São Paulo anunciou um tal pacote de bondades, com correções necessárias no Bolsa Família e no Imposto de Renda, que até então se negava a fazer. Soube que o futuro presidente Michel Temer planejava adotá–las e quis lhe tirar esse gostinho. Se o momento histórico que culminou na ditadura militar foi uma tragédia, Dilma insiste em um fim de governo meio sem pé e nem cabeça, algo patético. Uma pena.

O enredo, criado pelo marqueteiro João Santana, na campanha de 2014, foi um engodo. A errática gestão de Dilma nesse segundo mandato começou antes mesmo de ela assumir, ao escalar Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda. Levy e seu ajuste fiscal soaram bem ao mercado financeiro, mas eram tudo o que Dilma, não apenas negou na campanha, mas atribuiu a Marina Silva e, depois, a Aécio Neves.

Nesse melancólico fim de festa, bem retratado aqui pelo craque Orlando Brito, nem Lula deu as caras. Como aqui escreveu a antenada Helena Chagas, com ou sem voz, Lula poderia ter dado o ar da graça nesse Primeiro de Maio. Arrisco a dizer que pesou na decisão de Lula o fato de a anunciada multidões nas ruas contra o “golpe” ter se mostrado, desde a manhã do desse domingo, como mais uma ilusão. Sem adesão popular, até a militância desanima.

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