Bolsonaro entra em parafuso, demite Salles e segue preso na rede da CPI da Pandemia

Bolsonaro, Salles e Onix - Foto Orlando Brito

Um dos maiores craques universais de contos de fada, o dinamarquês Hans Christian Andersen há séculos consagrou em uma de suas fábulas a expressão de que o rei estava nu quando ele se achava bem vestido. A ilusão de que o poder pode tudo parece ter enlouquecido o presidente Jair Bolsonaro. É impressionante como ele próprio se estapeia durante o jogo.

Seu desespero sempre que se sente acuado virou falha previsível para seus aliados e adversários. Todos tiram proveitos disso. Bolsonaro paga um pedágio cada vez maior para se manter no cargo. O velho Centrão tá cada vez mais deitando e rolando com as oportunidades proporcionadas por essa fragilidade. E a oposição também.

Sua linha de defesa diante de acusações consistentes beira ao ridículo. O discurso sem pé nem cabeça, com ameaças amalucadas, do ministro Onix Lorenzoni, secretário-geral da Presidência da República, foi mais um tiro no pé. A única coisa extraível dessa fala do ministro em nome do presidente Bolsonaro, com devaneios supostamente religiosos, foi a ameaça a testemunhas que denunciaram o escândalo em torno da compra da vacina Covaxin.

Onix Lorenzoni – Foto Orlando Brito
Senadores Randolfe Rodrigues, Renan Calheiros e Humberto Costa – Foto Orlando Brito

Os olhos lacrimosos de Lorenzoni e suas ameaças deram ruim. Os senadores Renan Calheiros, relator e Randolfe Rodrigues, vice-presidente da CPI, deram uma enquadrada em Onix Lorenzoni. Por estar ameaçando testemunhas e obstruindo a Justiça, ele pode ir para a cadeia.

O Palácio do Planalto está tratando como pelada de rua um jogo levado a sério pelo Congresso Nacional, o Supremo Tribunal Federal e o país inteiro. A questão central é como a Precisa Medicamentos, uma empresa com sócios enrolados em outros escândalos no Ministério da Saúde, conseguiu limpar sua ficha suja e fechar um contrato de R$ 1,6 bilhão para a venda de uma vacina  considerada suspeita pela Anvisa.

Não vou repetir aqui o já escrevi sobre as tretas da Precisa e de seus donos — e de suas ligações lucrativas nos últimos governos. A CPI deveria deitar e rolar nesse mundinho bilionário de negociatas que perpassam vários governos. Isso poderia ocorrer, por exemplo, se a tropa de choque governista pagasse pra ver a folha corrida da Precisa. Seria ótimo para o país.

Mas o que o governo exibe até agora, além de ameaças a testemunhas, foi a demissão do ministro Ricardo Salles. Chegou tarde, perdeu o prazo de validade. Evidente que com algum impacto, mas sem potência pra resgatar de outros rolos em que está envolvido.

A conferir.

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