A aliança que chuta o pau da barraca de crimes de Bolsonaro na pandemia

Quebrou de vez o cristal de Bolsonaro. A conta de 300 mil mortes ficou muito salgada. Banqueiros, Centrão, empresários de todos os naipes exigem mudanças de postura e a cabeça de ministros como Ernesto Araújo. A conferir.

Bolsonaro no Alvorada com os presidentes do Senado, Câmara, STF e governadores - Foto Orlando Brito

Mesmo sem parecer, Jair Bolsonaro aprendeu alguma esperteza no jogo miúdo do baixo clero da política. Daí ter se dado bem ao atrair e firmar uma parceria com o Centrão. O seu problema é que mesmo nesse mundinho a moeda tem outras faces. Não há cargos nem verbas que superem a perda de popularidade. Também não compensam quando os históricos financiadores de campanhas se unem contra algum eventual desgoverno. É o filme em cartaz.

Com mudanças pontuais nesse script, esse é também o enredo das quedas de governo no Brasil em processos democráticos por deliberações do Congresso Nacional. Elas não ocorrem como raios em tempo bom. São decorrências de  um processo que ganha pernas próprias quando os alertas não são entendidos ou menosprezados pelos governantes.

Bolsonaro, que não é bobo, sabe que as macabras 300 mil mortes pela pandemia cada vez mais terão um custo político e de popularidade maior. Embora tardia, a pressão do PIB com o contundente manifesto de banqueiros, empresários e economistas também causa um abalo sísmico em Brasília. E nesse caldeirão, qualquer faísca é fogo.

Ministro Kassio Numes Marques – Foto Felipe Sampaio/STF

Até o voto do ministro Nunes Marques na Segunda Turma do STF a favor de Sérgio Moro no julgamento sobre a sua parcialidade no caso do Tríplex do Guarujá eleva a temperatura. Não foi só por histeria que Gilmar Mendes se revoltou contra o voto do colega, que chegou ao Supremo em uma parceria do Centrão com Bolsonaro, com aval do próprio Gilmar Mendes e de Dias Toffoli.

O ex-ministro Sérgio Moro – Foto Orlando Brito

No tititi que agita o dia a dia dessa turma prevaleceu a versão que Nunes Maia teria atendido Bolsonaro para evitar a concorrência de Lula em 2022, mesmo que preservando Sérgio Moro, uma ameaça eleitoral supostamente menor. Isso causou incômodo nos aliados do governo no STF e no Centrão. Todos se sentiram de alguma maneira traídos. O problema do Centrão não é Lula, mas a própria sobrevivência de dezenas e dezenas investigados por corrupção e lavagem de dinheiro. O que eles querem é a alguma garantia de impunidade. Simples assim.

Mas o que aqui se planta, aqui se colhe. Bolsonaro não entendeu os movimentos que antecederam a reunião que promoveu nessa quarta-feira (24) como representantes de todos os poderes no Palácio da Alvorada. O propósito ostensivo foi criar, com um ano de atraso, um comitê nacional para combater a pandemia. O senador Rodrigo Pacheco e o deputado Arthur Lira, por exemplo, foram a São Paulo na segunda-feira para sentir o pulso do empresariado. Apuraram lá que a paciência com os seguidos erros do presidente na condução da pandemia simplesmente se esgotou. Os custos do discurso negacionista para agradar os cultores do mito são cada vez mais caros para a saúde e a economia do país.

Ministro Ernesto Araújo – Foto Orlando Brito

Bolsonaro também sabe disso, mas mantém a postura de manter um pé em cada canoa, mesmo que uma delas esteja afundando. Finge, assim, que atende às pressões generalizadas para mudar de postura. mas continua a alimentar sua milícia digital. Só que o cerco está fechando: por exemplo, em uma aliança tácita do Centrão com os militares, o agronegócio, empresários, com o apoio da sociedade, a cabeça a prêmio é a do chanceler Ernesto Araújo.

Bolsonaro com Weintraub – Foto Orlando Brito

Todos sabem que ele vai cair. Nessa quarta-feira, passou por mais um vexame no Congresso Nacional. Mas Bolsonaro, como sempre, estica a corda. Foi assim com Abraham Weintraub, o general Eduardo Pazuello e vai ser também com o ministro Ricardo Salles, o “passa a boiada”, do Ministério do Meio Ambiente. Já deveriam estar fora do governo há tempos, mas  Bolsonaro ganha tempo para vender a seus seguidores que não os abandonou, apenas está entregando os anéis aos adversários para não perder os dedos — e o mandato. Posa de vítima. Irrita aliados.

Jair Bolsonaro, Arthur Lira Guedes e Rodrigo Pacheco – Foto Orlando Brito

É nesse contexto que empresários, Centrão e outros parceiros resolveram subir o tom nas cobranças. São manifestações pipocando de vários lados. Mas chama a atenção o pronunciamento nessa quarta-feira (24), na sessão da Câmara, em que seu presidente Arthur Lira desenhou o próprio discurso lido para que não houvesse dúvidas, ou interpretações dúbias, sobre os alvos. Deu um explícito cartão amarelo para Bolsonaro e acenou com a possibilidade de que, se ele continuar cometendo seguidas faltas, pode  receber o vermelho e ser expulso do jogo. “Tudo tem limite. Os remédios políticos do Congresso são conhecidos e todos amargos. Alguns fatais”.

O cerco fechou.

A conferir.

 

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