Jair Bolsonaro já não estava bem na foto antes da pandemia: sua popularidade declinava a cada pesquisa, a economia não crescia, o governo se perdia entre conflitos ideológicos e tiros no pé. Sua reeleição em 2022 não era tão provável quanto alguns desejavam. Além de intensificar esse quadro – torna-se real até a possibilidade de Bolsonaro não concluir o mandato – o cenário da Covid-19 trouxe mudanças surpreendentes, como o crescimento na aprovação de governadores como João Doria (SP) e Wilson Witzel (RJ) e o surgimento do cometa Mandetta no horizonte. A direita não-terraplanista se organiza em torno de novas opções.
Ainda é cedo para se dizer, pois além de faltarem dois anos e meio para a eleição, o destino desses personagens, e de outros, estará profundamente ligado a seu desempenho até o final da pandemia – que, infelizmente, ainda está na primeira metade. O retrato do momento, porém, mostra Doria com 51% e aprovação em São Paulo e Witzel com 55% no Rio. Jair Bolsonaro em queda livre em seu próprio estado (39% de desaprovação x 34% positivos) e, sobretudo, em São Paulo, onde está o maior eleitorado do país: 28% de aprovação contra 43% de rejeição, segundo o Datafolha. No cômputo do país todo, o presidente da República tem 33% de bom e ótimo.
Se mantiverem esses bons patamares, Doria e Witzel são candidatos a presidente em 2022, ou, quem sabe, ou Doria ou Witzel, numa aliança à direita que já está senso esboçada por eles e teria o poder de esvaziar parte do eleitorado de Bolsonaro e ainda atrair forças de centro. O cometa Mandetta, filiado ao DEM, é visto também como possível candidato, mas quem entende do riscado vê o hoje ministro da Saúde como uma aposta vencedora para o governo do Mato Grosso do Sul ou até como vice de Doria, numa provável reedição da aliança que elegeu e sustentou Fernando Henrique Cardoso: PSDB + DEM (ex-PFL).
Nomes inventados como novidade, como o do apresentador Luciano Huck, nem entrariam no páreo nessa hipótese. Tudo indica que vai ser uma eleição para profissionais, e os chefes de governos estaduais nunca foram tão competitivos nos anos recentes. Claro, a depender de sua avaliação final no pós-pandemia.
Tudo isso deveria fazer as forças de centro-esquerda do país se mobilizarem. Entende-se como cômoda a situação de quem, retirado da disputa ou nela derrotado, assiste o circo pegar fogo e transformar em carvão seu principal adversário. Mas a vitória, ou a chance de chegar lá em 2022, não virá por osmose, com a simples derrota da direita radical que chegou ao poder com Bolsonaro. Outras forças estão sendo mais rápidas e podem acabar ocupando aquele vazio político que, desde as lições de Ulysses Guimarães, sabemos que não existe…