Com a redução dos depósitos compulsórios para estimular o crédito, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, dá mais um passo para consolidar seu protagonismo no esforço de crescimento da economia em 2020. O Banco Central, ao reduzir as taxas de juros a 4,25%, as mais baixas na história fixadas pela autoridade monetária, e induzir a taxa cambial está estimulando o crescimento da economia, embora negue que seja esta sua missão.
A injeção de R$ 135 bilhões de recursos dos compulsórios, dinheiro que estava retido no BC mais por preocupações prudenciais, será de grande ajuda para a queda do spread bancário e o custo final para o tomador de crédito.
Menos compulsórios, mais crédito
O ministro da Economia, Paulo Guedes, vinha defendendo a medida há quase um ano. A autoridade monetária, ciosa na defesa de sua autonomia, deixou o assunto de lado. Mesmo com a liberação desta parcela de recursos de depósitos a prazo, o Banco Central continuará retendo cerca de R$ 315 bilhões em seus cofres.
Quer dizer, a decisão do BC poderia ser bem mais ousada reduzindo os compulsórios, o que injetaria mais recursos dos bancos na economia a um taxa de juros menor. Assim, mais crédito a um custo menor aumentaria o consumo e a economia teria mais estímulos para crescer.
Os compulsórios são instrumento poderoso do BC na condução da política monetária. Em época de preços descontrolados e inflação alta, o BC aumentava o recolhimento de uma parte dos depósitos à vista e a prazo dos bancos sem qualquer remuneração para inibir as operações de crédito. Desta forma, as elevadas taxas de juros fixadas pelo BC e as restrições nas oferta de crédito contribuíam para reduzir a demanda e os preços na economia.
O estímulo à economia vem do BC
Hoje vivemos uma situação oposta. A inflação está sob controle, não há demanda na economia e o BC pratica as menores taxas de juros básicas da história. Só que estes juros baratos não chegam ao consumidor e ao tomador final de crédito, coisa que pode começar a mudar a partir da liberação do compulsório.
Mesmo com as limitações que o cargo lhe impõe e a missão do Banco Central, hoje, Roberto Campos Neto, tem feito muito mais que Paulo Guedes para estimular o crescimento da economia. É verdade que Guedes conseguiu aprovar a reforma da previdência e está fazendo um grande esforço na área fiscal, mas estas são medidas contracionistas, pois tiram dinheiro da economia.
A reforma tributária, que poderia dar uma maior competitividade nos custos das empresas, ainda não saiu do papel. Na prática, quem está adotando medidas para tirar a economia do buraco é Campos Neto, embora diga que sua missão à frente do BC é manter a inflação dentro da meta e garantir liquidez no mercado de câmbio.