A tensão de véspera de eleição está provocando uma desvalorização do real diante do dólar. Com medo do que pode vir no futuro, muitos investidores estrangeiros estão saindo com seus dólares. Até mesmo os brasileiros aumentam as remessas de recursos ao exterior para aplicar em dólar, moeda forte. A valorização do dólar dá ganhos aos exportadores, castiga os consumidores de produtos importados e exerce uma pressão adicional sobre a inflação.
Quem remete seus recursos ao exterior busca, no entanto, preservar seu patrimônio destes choques de preços. O próprio Banco do Brasil vinha, nos últimos seis meses, sugerindo aos seus clientes investimentos no exterior quando a cotação do real andava na casa dos R$ 4,80 por U$ 1,00 diante da oportunidade adicional de aumento dos juros nos Estados Unidos. Hoje, é dada como certa a elevação dos juros americanos para 4,5%, o que é um atrativo ainda maior para a fuga de capitais do Brasil. É que, quanto maior forem as taxas de juros nos EUA, mais elevada será a valorização do dólar frente ao real.
Reservas em queda
O movimento de remessa de dinheiro ao exterior vem ocorrendo nos últimos dois anos. Um levantamento feito pela IFI (Instituição Fiscal Independente), do Senado Federal, constatou, a partir do segundo semestre de 2021 até este momento, uma queda das reservas internacionais do Brasil de US$ 370,40 bilhões para US$ 339,66 bilhões, em agosto de 2023. “A redução das reservas, fruto de decisão do governo, no entanto, não é trivial, tendo em vista a necessidade de avaliação dos custos e benefícios do carregamento desse ativo. Além disso, é preciso considerar o impacto da venda das reservas sobre a taxa de câmbio. Como as reservas configuram um seguro do país contra crises internacionais, a eventual venda para além de níveis ótimos pode aumentar a vulnerabilidade externa do país, comprometendo os fundamentos da economia”, alerta a IFI.
A queda nas reservas, perto de US$ 32 bilhões, teve impacto sobre o estoque da dívida pública federal e a política monetária do Banco Central. É que os dólares adquiridos pelo Banco Central, e aplicados no exterior, estão lastreados em títulos públicos. As aplicações dos dólares no exterior são remuneradas por uma taxa de juros bem menor dos que as atuais 13,75% praticadas no Brasil. É um custo elevado que o País paga para manter as atuais reservas internacionais.
O ex-presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, adotou uma estratégia de acumular reservas internacionais para o Brasil fazer frente a crises externa de liquidez e dar maior credibilidade e segurança aos investidores estrangeiros. As reservas saltaram de US$ 85,84 bilhões, em dezembro de 2006, para US$ 240,48 bilhões, em dezembro de 2010, período que Meirelles esteve à frente do BC.
Seguro contra crises
Depois, as reservas subiram ainda mais, alcançando o nível de US$ 370 bilhões no primeiro semestre de 2012. A alta se deu por meio da atuação do Banco Central e do Tesouro Nacional no mercado de câmbio. O aumento das reservas internacionais teve como contrapartida incremento na dívida bruta. Apesar de, em um primeiro momento, o acúmulo de reservas internacionais ter sido desejável devido ao saldo relativamente baixo verificado no começo dos anos 2000, o crescimento do montante de divisas veio acompanhado de aumento de endividamento público.
A redução recente observada nas reservas parece guardar relação com o contexto internacional. A atual queda nas reservas, fruto de decisão do governo, no entanto, não é trivial, tendo em vista a necessidade de avaliação dos custos e benefícios do carregamento desse ativo. “Além disso, é preciso considerar o impacto da venda das reservas sobre a taxa de câmbio. Como as reservas configuram um seguro do país contra crises internacionais, a eventual venda para além de níveis ótimos pode aumentar a vulnerabilidade externa do país, comprometendo os fundamentos da economia”, avaliam os economistas da IFI.