A guerra da Ucrânia revela o nível das lideranças em tempos nebulosos de promiscuidade de ideias e pragmatismo venal. Biden e Zelensky fazem parte desse teatro dos interesses escusos. Aqui Putin é o escolhido para situar um desses líderes.
Putin é dado a blefes e mentiras. É um ex agente do que restou da KGB. Fiquemos na acusação de que a ocupação da Ucrânia era justificada, entre outras razões, para desnazificar aquele país. Um absurdo.
De fato, Zelensky deu continuidade à incorporação da extrema direita armada na luta em regiões separatistas de maioria linguística russa (Donetsk e Luhansk). Ali foram mortos por grupos neonazistas entre quatro a quatorze mil civis, dependendo da fonte. As atrocidades do batalhão Azov (fundado por Andry Biletsky), incorporado à Guarda Nacional, são bem conhecidas. Há muitos herdeiros de Stepan Andriyovych Bandera (1909 -1959), um líder nacionalista que chefiava a Organização dos Nacionalistas Ucranianos (OUN), assassinado em Munique a mando de Moscou. Mas a Ucrânia não possui um significativo sentimento nacionalista da ultradireita extremada nas ideias de supremacia racial.
Os Neonazistas não têm força na Ucrânia. Na última eleição democrática eles obtiveram 2% dos votos da população ucraniana. Algo inexpressivel no quadro continental. Em todos os países da Europa Ocidental, a extrema-direita tem mais intenção de voto do que na Ucrânia, cinco a dez vezes aquele percentual. Mesmo na Rússia, a extrema-direita tem mais intenção de votos do que na Ucrânia.
Portanto, Putin apoiou-se em uma de suas mentiras na qual uma certa “esquerda “desavisada” acredita, por não conseguir sair da bolha na qual se encontra.
Agora, o interessante é que esta esquerda tradicionalista e a extrema-direita reacionária do Brasil estão juntas nesta narrativa sobre a INVASÃO de Putin na Ucrânia!
Um sintoma da metamorfose na qual Biden, que não é nenhum santo (ver sua intervenção corrupta junto a grupos e governo ucranianos em favor de negociatas de seu filho, quando vice de Obama) serve para uma nivelamento para baixo da democracia constitucional dos EUA e um enaltecimento das razões da Rússia em geral e de Putin em particular.
Putin passa, o putismo deverá sobreviver. Putin precisa destruir ao máximo a Ucrânia, com a ajuda de Zelensky (um fantoche dos EUA e aliados), para melhorar o acordo no findar da guerra. Os efeitos traumáticos também se evidenciam nos lares russos e a reconstrução da economia após o cessar fogo será marcada por uma mistura de culpabilização e idolatria quanto a Putin, tendendo a aumentar quando de sua morte. Putin revelou o sonho imperial que une comunistas, oligarcas, e amplos setores sociais desinformados. Basta lembrar que a Rússia é especialista em produzir robôs capazes de produzir fake news em rítmo algorítmico.
Muito cuidado com as putinices do putismo. Ele ultrapassa o solo europeu e ganha terreno mundo afora, como reconfiguração possível num tempo de ideologias prostituídas, inclusive no Brasil.