Serra no Itamaraty: virada de mesa na politica externa; freio no Mercosul

José Serra. Foto Orlando Brito

Reforma ministerial é assim mesmo: nomes e especulações para todos os lados. Inclusive do próprio comandante da reforma, o presidente da República de plantão, que começa pensando uma coisa e acaba tendo de ceder aqui e ali.

Cede tanto que termina montando uma equipe bastante diferente da que sonhou.

Não se iluda. Com o provável futuro presidente interino, Michel Temer, não será diferente.

Um nome pode aparecer como ministro da Fazenda, passear pelos ministérios da Infraestrutura, da Educação e da Cultura e acabar como ministro das Relações Exteriores com um rabicho do Ministério da Indústria e do Comércio sob seu chapéu.

É, estou falando do senador José Serra (PSDB-SP) mesmo. Pode ser até que ele nem se torne ministro de coisa alguma. Tudo é possível.

Mas vamos lá: o que significa Serra no Ministério das Relações Exteriores?

Significa uma mudança radical na política externa brasileira. Significa abandonar a estratégia montada pelo governo Lula, com prioridade para os países vizinhos do Mercosul e da Unasul, assim como os países africanos e etc.

Serra já se disse mais socialista que o próprio Lula. Mas em termos de política externa não tem ideologia. É um pragmático. Um pragmático paulistano. Voltado para o crescimento da indústria.

A prioridade de Serra será o comércio com países que comprem nossos produtos manufaturados ou de algum valor agregado. Menos commodities e mais indústria. E ponto final.

Quanto ao Mercosul… Bem, desde os tempos do ex-presidente José Sarney e do tucano Fernando Henrique Cardoso e seu ministro da Fazenda Pedro Malan (de quem aliás nunca gostou),  José Serra sempre foi um crítico feroz do bloco.

Diz que é uma fonte de prejuízos para a indústria brasileira. Sobretudo em relação à Argentina. Mas, segundo ele, também outros países da América do Sul exercem um verdadeiro protecionismo contra nossos produtos, e o Brasil não reage adequadamente.

Agora às vésperas de assumir a pasta, pode ser que o senador tucano assuma um discurso mais brando, mais em cima do muro. Pode ser até que — ao fim e ao cabo — ele não acabe com o Mercosul.

Mas que o bloco de países vizinhos vai sofrer nas suas mãos, lá isso vai. Para a indústria nacional, no curto prazo, talvez até seja uma boa.

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