Sobre cartões de vacina e cartões de crédito

Não fosse o cartão vermelho que os ocupantes do Alvorada e do Planalto receberam, talvez não viessem à tona os escândalos deles com o cartão de vacina e com o cartão de crédito

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Há alguns dias o tenente-coronel Mauro Cid não sai da pauta dos principais noticiários. Ajudante de ordens do então presidente Jair Bolsonaro, parece que o militar era na verdade um faz-tudo para a família palaciana.

A se confirmarem as declarações do ex-presidente, Cid se antecipava a qualquer ordem e resolvia problemas que imaginava que poderiam vir a acontecer.

Aplicativo Conecte Sus – Foto Marcelo Camargo/Agência Brasil

É o que alega a defesa em relação ao cartão de vacina de Bolsonaro e de sua filha. O antigo ocupante do Alvorada confirma que jamais se vacinou e que nunca pediu que seus dados no ConecteSUS fossem adulterados, afinal, segundo ele, não precisava disso para entrar nos EUA, para onde foi em seu exílio antes da posse de Lula. Na entrevista à revista Veja disse que sua filha Laura também não precisava do documento adulterado para nada.

Afinal de contas, por que, então, seu ajudante de ordens decidiu proceder à adulteração dos cartões de vacina? Será que pelo fato de ter adulterado o seu próprio e os de sua mulher e filhas, a fim de, caso houvesse algum problema, com Bolsonaro envolvido, eles todos pudessem se safar?

Além da fraude que obviamente é considerada um crime, existe uma questão moral que deve ser levantada.

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Bolsonaro sempre se colocou claramente contra a vacina da COVID. E defendia o direito de poder escolher entre se vacinar ou não. Criticou gestores públicos que obrigavam o uso do comprovante de vacinação para acessar espaços públicos.

Quem não se vacinou, portanto, deveria saber que sofreria algumas sanções em sua vida cotidiana. Assim ocorre com qualquer escolha que fazemos, sempre deixamos para trás uma série de outras possibilidades.

Conheço pessoas que só se vacinaram porque pretendiam viajar e não estavam dispostas a abrir mão de seu programa favorito. Apesar de não confiarem muito nos imunizantes, grande parte em razão da propaganda contrária do presidente à época, acabaram tomando a vacina para não terem problemas caso quisessem ter acesso a alguns países. Algumas pessoas, poucas, optaram por não viajar para não ferir suas convicções ideológicas.

Tenente-coronel Mauro Cid – Foto Reprodução/Twitter

Mauro Cid, sua família e outros do entorno de Bolsonaro, escolheram não tomar a vacina, mas não quiseram arcar com as consequências dessa escolha. Usando o poder que o Executivo federal confere, deixaram de se imunizar mas não quiseram deixar de ter direito a entrar em países que exigiam a vacinação. Acharam que uma carteirada resolveria o problema e, a princípio, resolveu.

Só não contavam com a astúcia da Polícia Federal, essa corporação que anda perseguindo Bolsonaro, seus familiares e afins. Por óbvio, não fossem alguns mal feitos, a PF não teria como pegar no pé deles.

Além do flagrante desrespeito às regras de outros países, a adulteração dos cartões de vacina representa um grande desrespeito às normas e à legislação do nosso próprio país. Especialmente por ter sido tramada por um oficial do Exército, instituição que se jacta de formar membros obedientes ao cumprimento da lei e da ordem.

Primeira-dama, Michelle Bolsonaro – Foto Orlando Brito

Continuando com Cid, soubemos que ele cuidava pessoalmente das contas de Michelle. Na entrevista à Veja, a ex-primeira-dama diz que ele sacava dinheiro da conta de seu marido para pagar suas despesas. Disse que usava o cartão adicional de uma amiga porque sempre foi uma quebrada. Não seria mais fácil e lógico pegar um cartão adicional do marido que nunca foi um quebrado?

Essa mulher que não tem um cartão sequer no seu nome, que precisa de um ajudante de ordens para sacar dinheiro e pagar suas contas, que não sabia que o cartão de vacina de sua filha mais nova havia sido adulterado, que quis desistir de tudo várias vezes, de acordo com entrevista à Veja, é que é a mulher com potencial para influenciar outras mulheres de acordo com o PL?

O presidente nacional do Partido Liberal (PL), Valdemar Costa Neto – Foto Marcello Casal Jr/Agência Brasil

Michelle repete sempre que eles tinham um propósito e que ela agora tem a missão de ajudar o partido de seu marido. Será que ela acha que o PL é um partido que representa os propósitos cristãos? Seu presidente, Waldemar, também é um ex-presidiário, só para usar uma alcunha que eles adoram.

Não fosse o cartão vermelho que os ocupantes do Alvorada e do Planalto receberam, talvez não viessem à tona os escândalos deles com o cartão de vacina e com o cartão de crédito. E outros mais que estão por vir.

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