Sucesso em todas as paróquias nas décadas de 70 e 80, quando ainda não existiam os padres cantores Marcelo Rossi e Fábio de Melo, o Padre Zezinho foi o responsável por catequizar, por meio das suas canções, toda uma geração de católicos.
Durante anos a música Um Jovem Galileu, que narrava a história de Jesus, foi a trilha sonora das missas de domingo de Norte a Sul. Nos meses de maio, no terço em homenagem à Nossa Senhora, a trilha também era do Pe. Zezinho. Maria de Nazaré. Eram versos entoados por toda igreja por adultos e crianças, num imenso coral de devotos.
Hoje, aos 81 anos, Padre Zezinho, que tanto encantou os fieis, é desrespeitado, xingado e agredido simplesmente por, como ele mesmo afirmou em carta aos seus seguidores, “ensinar a doutrina social cristã”.
O mais triste de tudo é que as agressões, segundo o próprio padre, não partem de ateus ou satanistas, mas de pessoas que se declaram católicas. Essas pessoas frequentam a igreja, mas parece não entender o que diz a Bíblia e a mensagem de amor e paz transmitida por Jesus há mais de dois mil anos.
Esses fieis deixaram de adorar a Deus e passaram a adorar políticos. Parecem ter sido lobotomizados. Colocam um humano falho e pecador acima de tudo, inclusive de Deus.
A carta do Pe. Zezinho foi publicada depois da profanação do Santuário de Nossa Senhora Aparecida, dia 12, durante a festa da Padroeira do Brasil. Nela, anuncia que deixará sua página no Facebook, onde tem mais de 1 milhão de seguidores: “Dia 31 voltarei a conversar com os católicos serenos que ainda querem catequese espiritual e social e comportamental. Os outros já decidiram. Não querem estes livros que usamos para ensinar a fé católica”.
A baixaria nas redes sociais tem sido uma marca da campanha eleitoral deste ano. Fake news e acusações mútuas substituem o debate em torno de propostas sobre os reais problemas brasileiro como a fome, saúde, educação, segurança, inflação, desemprego. Nas redes sociais o alcance de publicações com ataques – mesmo que infundados-, é muito mais elevado que as demais postagens. A campanha – tanto nas redes como na televisão – virou um vale tudo sem precedentes.
Ao longo da campanha, em especial no segundo turno, já se falou em satanismo, maçonaria, fechamento de igrejas, fim dos feriados cristãos – fora os vídeos com as chamadas deepfakes -, que prefiro me abster de comentar. Ao estimular essa guerra suja nas redes, os candidatos “autorizam” aos seus seguidores mais agressivos a atacarem quem pensa de maneira diferente ou quem escolhe não se manifestar políticamente no ambiente virtual, os tais “isentões”.
É o caso do Pe. Zezinho, que afirmou ter sido chamado de “mau padre, comunista e traidor de Cristo e da Pátria”. A imprensa atribuiu os ataques apenas aos bolsonaristas, mas o padre deixa claro que as ofensas vinham de devotos tanto da direita quanto da esquerda. “Já escolheram ser catequizados por dois poderosos políticos brasileiros”, afirmou na carta.
E completa mais adiante: “Acharam candidatos mais católicos que papas e bispos, cujos documentos nunca leram. A Bíblia nada lhes diz. Só conhecem as passagens políticas que ajudem o seu partido. Padre bom é o que vota como eles”.
O desabafo do Pe. Zezinho mostra a que ponto nós chegamos no Brasil graças ao radicalismo politico. Revela a existência de uma turma numerosa sem noção, sem respeito e sem caráter. E que acha que vale tudo para defender a sua “ideologia” ou o seu “político de estimação”, inclusive usar o nome de Deus em vão.
O mais desolador em todo esse episódio, é que, qualquer que seja o resultado da eleição, o país continuará dividido. Vamos demorar muito a nos recuperar.
É, se Jesus voltasse à terra nos dias de hoje, certamente seria crucificado outra vez. Ou metralhado.