A campanha eleitoral ainda nem começou oficialmente, mas a luz vermelha já acendeu em vários setores da sociedade. As instituições, sobretudo o Judiciário, precisam ficar atentas aos acontecimentos e tomar providências antes que a situação fuja totalmente ao controle. Nos últimos dias alguns episódios sinalizavam que teríamos tempos difíceis até outubro. Mas o assassinato de um militante petista no último sábado, em Foz do Iguaçu, no Paraná, durante a comemoração do seu aniversário de 50 anos, por um bolsonarista fanático, mostrou que a situação pode ser bem mais grave do que imaginávamos.
O fato é ainda mais assustador por alguns motivos: o que esse assassinato escancara é o aumento do grau de violência da militância bolsonarista – que se revela cada vez mais intolerante e disposta a ir até as últimas consequências pelo ‘mito’. Essa conduta responde a estímulos cada vez mais golpistas das hostes bolsonaristas, inclusive em reuniões ministeriais.
Mas, também, pela atitude, ou falta dela, por parte do próprio Bolsonaro. Como presidente da República, ele tinha obrigação de ser o primeiro condenar com veemência o assassinato de um opositor e defender a paz e a democracia. Não foi isso que ele fez, ao contrário.
Procurou ignorar o fato até o último momento, se eximindo de fazer qualquer comentário. Somente à noite, depois que todos os pré-candidatos já haviam se manifestado publicamente, foi às redes sociais para postar a seguinte mensagem: “Independente das apurações, republico essa mensagem de 2018: Dispensamos qualquer tipo de apoio de quem pratica violência contra opositores. A esse tipo de gente, peço que por coerência mude de lado e apoie a esquerda, que acumula um histórico inegável de episódios violentos”.
Além de não pacificar, a mensagem de Bolsonaro estimula ainda mais a violência e a intolerância contra os adversários. Não colou nem entre seus aliados. Até porque passaram a circular nas redes sociais uma foto tipo brothers de Eduardo Bolsonaro com o assassino.
A pressão subiu a ponto de Flávio Bolsonaro, o 01 com mais juízo, fazer uma condenação explícita a quem provocou a tragédia em Foz de Iguaçu. Foi um alívio para apoiadores menos amalucados que temiam algum gesto intempestivo para declarar o assassino herói na guerra maluca dos bolsonaristas.
O pior é que não foi um fato isolado. Na última quinta-feira (7), durante a tradicional live, além de atacar mais uma vez as urnas eletrônicas, o presidente disse aos seus apoiadores: “Você sabe como você deve se preparar, não para o novo Capitólio, ninguém quer invadir nada, mas sabemos o que temos que fazer antes das eleições”.
O que os bolsonaristas têm que fazer antes das eleições? Matar os opositores em plena festa de aniversário? Jogar terra e ovos no carro do juiz Renato Borelli, que acatou a prisão da quadrilha que atuava no MEC? Atirar uma bomba de fezes em ato de campanha de Lula? Ou dar um tiro em uma vidraça da Folha de São Paulo? O que será que eles planejam?
O presidente do TSE, ministro Edson Fachin, já manifestou preocupação com as eleições deste ano. Nos Estados Unidos, alertou que o Brasil poderá sofrer um atentado pior que a invasão do Capitólio. Exagero? Não. Os últimos acontecimentos mostram que essa preocupação tem cada vez mais fundamento.
A pergunta que fica é: onde foi que o Brasil se perdeu para chegar a esse ponto?