Ao discursar na sessão de reabertura do Ano Judiciário no STF, no último dia 1° de fevereiro, portanto após a invasão dos 3 Poderes protagonizada pelos vândalos fascistas , o procurador-geral da República, Augusto Aras, voltou a se ilustrar. Mostrou-se indigno, amoral, sem vergonha nem brio. Antonio Augusto Brandão foi mais Aras do que nunca; covarde. Inventou uma desculpa, mais esfarrapada impossível, para declarar que graças à sua ação – ou omissão – o Brasil se manteve democrático. Embora a verdade seja outra, a democracia renasceu apesar do Ministério Público Federal e não graças a ele.
Aras devia ter aproveitado a ocasião para renunciar ao cargo e assim permitir que, em seu lugar, seja nomeado um verdadeiro procurador-geral da República. Entretanto, como era de se esperar, fez exatamente o contrário. Dirigiu-se ao presidente da República e, na maior “caradura”, disse que teve atuação ” estrategicamente discreta” sob o governo Bolsonaro pela boa causa. Dessa maneira teria evitado que “extremistas de todas as naturezas e ordens manifestassem contra o regime democrático”.
O discurso de Aras no STF foi risível, se não fosse trágico. O PGR não foi discreto, como agora afirma, foi cúmplice dos crimes de Bolsonaro. Hoje, declara ser generoso e fiel à Constituição. Quanto à generosidade, não faz parte de suas atribuições, bastava ter sido fiel à Lei Magna. O que não foi nos últimos 4 anos.
Seu papel era criar as condições judiciais para que os responsáveis por crimes hediondos, como por exemplo os cometidos durante a pandemia, fossem condenados e devidamente punidos. Aras prevaricou. Foi diretamente responsável por evitar a atuação da Justiça.
Com a sua fiel escudeira bolsonarista Lindôra Araújo, que ganhou a vice procuradoria depois de ter pedido o arquivamento das investigações do capitão sob o argumento mentiroso de que não havia provas científicas de que as máscaras protegiam contra o coronavírus, tiveram até hoje um só e único objetivo: evitar que a PGR cumprisse o seu dever de representar a sociedade. Ambos foram meros advogados, além de tudo medíocres, da família Bolsonaro e seus asseclas. Agiram como se estivessem a mando do Palácio. Assim atuaram nos últimos quatro anos.
Agora, vem ressaltar o trabalho da Procuradoria Geral da República contra os golpistas do dia 8 de janeiro e tentar compensar a leniência que o caracterizou. A PGR ofereceu 525 denúncias, 14 pedidos de prisão e 9 requerimentos de busca e apreensão.
Aras protelou enquanto pode, mas não teve outra saída. Foi a Advocacia Geral da União que pediu ao Supremo, no próprio dia 8, a prisão em flagrante dos golpistas envolvidos nos ataques e a de Anderson Torres, secretário da Segurança do Distrito Federal e ex-ministro da Justiça de Bolsonaro.
Como sempre, Aras tentou empurrar com a barriga. Só depois anunciou a criação do Grupo Estratégico de Combate aos Atos Antidemocráticos, com o objetivo de “identificar os núcleos de comando do movimento” e as “autoridades com prerrogativa de foro que tenham participado, cooperado para ou incentivado” os ataques.
Aras também foi pressionado pelos seus comandados. Em carta assinada por 184 integrantes do MPF, foi cobrado a apurar envolvimento e omissão de autoridades do governo nos atos golpistas registrados no país. Para os procuradores, a investigação da relação de autoridades com os movimentos responsáveis por esses atos é fundamental, bem como o pedido de instauração de inquérito policial para apurar a ação criminosa dessas autoridades que gozam de foro privilegiado.
Teve de sair de sua toca.
Augusto Aras é cínico, insolente. Teve a desfaçatez de, olhos nos olhos de Lula, em pleno STF, pronunciar uma ode à democracia.
“Nós, cidadãos do estado democrático de direito, precisamos dizer todos os dias: democracia eu te amo, eu te amo, eu te amo, porque esta democracia conquistada a duras penas exigiu sangue, suor e lágrimas de muitos brasileiros e de muitos outros que não antecederam no processo civilizatório”.
Antonio Augusto Brandão, o Brasil que derrotou a barbárie o dispensa de tamanha ternura, desse triplo “eu te amo”, que ousa falar em processo civilizatório e ao mesmo tempo viola a Constituição.
Chega de declarações de amor hipócritas, este Brasil exige “apenas” a aplicação do Direito. Nada mais, nada menos.