O Pós- eleição: notas intempestivas?

Para o autor, as esquerdas no Brasil, em especial o PT, perdeu sua essência ao trocar o sonho e a luta por igualdade por um caminho traiçoeiro, ao abraçar interesses escusos.

Foto PT

O PT plantou e colheu. Bíblico. Agora pode até ganhar uma sobrevida (via eleitoral) graças a seu alterego, o outro populismo delegativo chamado bolsonarismo. Este e aquele (o lulismo) se alimentam, reciprocamente. A meia autofágica vai perdurar por décadas prestando um desserviço à democracia.

Alternando salvadores em nome de projetos sociais os quais, para lograr bons resultados, tenderão a dispensar ou a contornar o rígido e devido compromisso com a obediência ao Estado constitucional. É a tendência mundial das democracias em seus divórcios anunciados pelo mercado, agora canibalizado.

Imannuel Kant

Eis o grito doído dos garantistas, abraçados com Comte e Kant diante do Capital que enfim os desmascara. Formas jurídicas não são meras formas mas conteúdos de uma Razão historicamente configurada. Alguém já anunciou o Estado de exceção graças e por dentro do Estado de direito. Uma abstração cada vez mais concreta. Golpe militar? Que coisa fora de moda.

Volto ao pós-eleições e às esquerdas. O PT morreu como expressão de utopia concreta presente nos movimentos de massa (sindical e político) dos anos oitenta e noventa. Deixou no século passado o compromisso com o fazer política de formas e conteúdos diferentes. Entrou no século XXI entregando o sonho e a luta por igualdade por um caminho burocrático traiçoeiro, abraçado com interesses escusos (com as elites arcaicas e seletos grupos financeiros).

Deu no que deu: a trágica assimetria nas trocas desiguais e bem combinadas a nos empurrar, diante do horror protofascista, para coonestar com monstros menores, a médio prazo…(afinal, o Duce tupiniquim tardio deve ser derrotado).

Antonio Gramsci

Migalhas efêmeras de reparação de danos minguam e arrefecem políticas por emancipação, ao mesmo tempo em que se ampliam os ganhos estratosféricos sem retorno social, da parte dos oligopólios. Esse o acordão (Transformismo II diria Gramsci) que esgarça a intermediação das instituições representativas, comprometendo definitivamente, a longo prazo, a própria sociabilidade democrática capaz de enfrentar e conter a barbárie.

A “conquista do Estado é parte do triunfo de Lampedusa. Mudar para nada mudar.

O PT se corrompeu e corrompeu as esquerdas, estejam elas na ” frente lulopetista” ou não. Sim, partidos de esquerda mais radicais ajudam a reforçar a “maturidade” dos acordos pelo centro em seu núcleo podre que cativam a nosso futuro. Como construir passarelas para algo novo com esses e outros avalistas da esquerda de governabilidade? Ganhando ou perdendo as eleições a grande questão para os setores de esquerda democrática e liberais progressistas, mesmo a direita liberal será: como avançar e derrotar a ultradireita, recuperando as bandeiras das revoltas e ações antissistema – hoje nas mãos bolsonaristas, sendo parte co-constituinte desse sistema?

Curiosamente a saída mais lógica é um non sense: perder as eleições e voltar a fazer movimento. E movimento com autocrítica quanto à mãozinha dada para tantas derrotas. Claro, missão quase impossível, imediatamente. Estamos todos anestesiados na regressão geral e a tendência nesse estado de déficit afetivo-emocional é simplificar, uma tarefa logo tomada para si por um exército de Bracaleone rico nas cores rosa e vermelha.

– Edmundo Lima de Arruda Jr

Deixe seu comentário