O Chefão e seus pastores

Queriam saber, simplesmente, quantas vezes o Chefão os recebeu, e para tratar do quê: política, dinheiro, campanha, outros. Já se sabe que os dois super-pastores estiveram no pastoreio do Planalto dezenas de vezes

Bolsonaro, ao lado da primeira-dama Michelle, com os pastores evangélicos no Planalto - Foto Orlando Brito

As incredulidades se repetem neste país onde quase tudo acontece, por estranho que possa parecer. Inclusive a assessoria principal de um chefe de governo considerar que o presidente está prestes a ser ameaçado de morte. Assim, repentinamente. Caramba, grande perigo! Mas a rotina continua. Que risco terrível corre o país, se uma coisa como essa vier realmente a acontecer.

Para que todos os cuidados sejam efetivamente adotados de modo a evitar qualquer surpresa catastrófica, o comando das Forças Armadas já está se preparando. Qual a ameaça de morte que ronda o Presidente, especificamente? Ah, porque dois pastores evangélicos foram recebidos por ele e lhe apresentaram pedidos chocantes – grana – contrapondo-se ao que deveria ser uma conduta honesta.

Ministro da Educação, Milton Ribeiro – Foto Orlando Brito

Queriam os pastores que o Ministério da Educação despachasse uma verba de alguns milhões para a construção de mais algumas capelas como parte do dinheiro destinado à excelsa entidade religiosa. Servil, o ex-ministro confessou ter recebido ordem do presidente para atender “tudo que seu pastor mandar”. O predileto dele.

Meios políticos e judiciais foram acionados para o gabinete presidencial responder a uma simples pergunta colocada por setores do Congresso: apenas confirmar se o preclaro presidente teria realmente autorizado tal negociata ao Ministro da Educação.

Houve reunião do Alto Comando das Forças Armadas que considerou a solicitação palatável, nada de escandaloso. Isso, em tese. Acontece, porém, que o debate de tal assunto poderia colocar em risco a vida do Presidente da República. Como, não conseguiram esclarecer.

Tendo em vista a gravidade do assunto e por se tratar de uma questão de segurança nacional, o comando militar determinou ainda que o prazo para revelação do detalhe referente ao dinheiro solicitado pelos pastores seria tornado público no período de 100 anos! Exatamente esse tempinho todo.

O Chefão tinha ligação de amizade com dois pastores especiais naquela casa litúrgica das mais ricas do Brasil. Tal relacionamento funcionava na troca de favores e materiais, intermediários entre o poder e o dinheiro envolvido. Os evangélicos são tão ricos, possuem tantos templos, para quê pedir mais dinheiro ao governo do Chefão? Querem ainda esmolas do governo para adquirir mais Bíblias, hóstias, reformar templos, apetrechos eucarísticos.

Pastores Arilton Moura (ao fundo) e Gilmar Santos – Foto Reprodução

Os pastores evangélicos Arilton Moura e Gilmar Santos participam da política e da Igreja. Breve um deles vai se candidatar a deputado ou senador. Indiretamente já participam de interesses políticos. Acontece que a nossa Constituição estabelece que o estado é laico, havendo assim uma contravenção latente. Laico, talvez eles desconheçam, é não permitir a atividade do Estado juntamente com a religião. Como quase todos os países do mundo.

Portanto, nada de intervenção da religião na política. O Chefão quer permanecer no seu atual cargo e para isso vai necessitar do apoio dos pastores, que já se movimentam nesse sentido. Os adversários deverão apresentar questionamentos sobre suspeitas de ilegalidades na campanha, em espécie ou comportamento. Poderão ser obrigados a esperar mais uma longa etapa para conseguir os esclarecimentos solicitados sobre os fatos.

Dirigentes de partidos discordantes com esta realidade recorreram à Justiça para confirmar os encontros do Chefão com os participantes do pastoreio. Queriam saber, simplesmente, quantas vezes o Chefão os recebeu, e para tratar de quê: política, dinheiro, campanha, outros. Já se sabe que os dois super-pastores estiveram no pastoreio do Planalto incontáveis vezes.

Para falar com o Chefão ou seus assessores, como o ex-ministro da Educação, pelo qual o Chefão chegou a fazer um empenho: “Pela correção dele coloco minha cara no fogo”. Correu sério risco, e já avisou que não fará mais apostas.

O interesse financeiro dessas Igrejas é curioso porque a maioria dos evangélicos, como instituição religiosa, não dá indicações de que estejam passando por problemas financeiros. Nem a maioria das congêneres. Segundo a revista Forbes, que checa os trocados dos bilionários, o bispo Edir Macedo possui uma fortuna de US $ 950 milhões de dólares. Silas Malafaia, outro coitadinho, possui US $ 150 milhões.

Então, o que fazem os miliardários de suas Igrejas querendo arrancar uma graninha do governo, dinheiro que é do povo? Saberemos daqui a cem anos.

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