Legalização do jogo vai gerar muitos milhares de empregos e mais receita

Foto Agência Senado

Desde 1946 os jogos chamados de azar, mas que poderiam também ser classificados como de sorte, praticados nos cassinos e outras instituições abertas ao público, foram proibidos abruptamente no Brasil. Com a atitude radical do então presidente Dutra, no Rio e em São Paulo, maiores focos da atividade, deixaram em cada uma dessas grandes cidades mais de 20 mil desempregados.

Carmela com a então primeira-dama da Argentina, Eva Perón – Foto wikiwand.com

Consta do anedotário da época, embora trate-se de realidade, que a decisão do presidente foi instigada e lhe imposta, autoritariamente, pela sua esposa, Carmela Dutra, de alcunha Dona Santinha. Uma senhora realmente volumosa, matrona, que julgava assim estar praticando uma medida de alcance moral e pelos “bons costumes”. Exigiu e o marido submisso e apaixonado prontamente obedeceu. Meses depois o presidente Dutra extinguiu também o Partido Comunista. Consta que, igualmente, atendendo ordem de Dona Santinha. Uma revolucionária .

Os brasileiros passaram décadas sem poder praticar uma atividade de lazer da qual muitos gostavam, honestamente. Milhares de cidadãos prejudicados, investimentos perdidos, carreiras artísticas encerradas. Nos cassinos foram revelados grandes intérpretes da música brasileira, além de outros artistas em espetáculos diversos. E o Brasil deixou ainda de arrecadar bilhões de réis e cruzeiros em impostos.

Projetos desde então apresentados para a legalização do jogo, apto a promover enorme aumento de arrecadação, que se não fosse surrupiada poderia gerar obras públicas em benefício da população. Todas as inciativas para o restabelecimento de uma atividade lucrativa foram derrubadas no Congresso. Por parlamentares submissos a caprichos religiosos.

Carmela Dutra

Desde que Dona Santinha mandou brasa, quem realmente gostava de jogar continuou jogando, como atividade tornada marginal, mas crescente na aceitação pública. Lucros para os protagonistas, e zero de tributos para o governo. E brasileiros indo ao exterior para jogar nos cassinos estrangeiros. Divisas, portanto, saindo do país.

Hoje, quem mais se intromete na questão pretendendo impor suas ideias obtusas e sistema autoritário são os evangélicos. A segunda maior facção do cristianismo no Brasil, que em mais uma década estará superando os católicos, segundo o IBGE. Eles poderão ser maioria mas não mandarão no Brasil nem nos brasileiros.

Nem deveriam pretender impor suas vontades ao Chefe do Governo. Muito menos “pedir” ao presidente da República para fazer isso ou aquilo, mesmo sendo ele cupincha dos evangélicos. O projeto de restabelecimento do jogo em cassinos foi agora aprovado na Câmara e vai para o Senado. Os evangélicos pediram logo ao Bolsonaro para vetar o projeto, se aprovado na votação final.

O presidente, que é também admirador do Putin, já avisou que sim, ele vai vetar. Que presidente é este que pode ser mandado por uma facção de Igreja evangélica? E que em troca pretende influenciar sua turma para votar nele para ser reeleito. A maioria católica, tal como os concorrentes evangélicos, é radicalmente também contra o jogo. Trata-se, para eles, de uma questão de moral e bons costumes. Pena que sobre temas mais graves e envolvendo crimes contra menores, a Igreja católica só se manifestou décadas depois.

Las Vegas

Dos 193 países representados na ONU, apenas 37 não admitem a oficialização do jogo em seu território, geralmente extremistas religiosos árabes. Até na Rússia existe, liberado em várias regiões. Na China, só é permitido em Macao e Hong Kong, onde são altamente lucrativos, recebendo turistas de todo o mundo. Hoje disputam com Las Vegas.

A liberação dos jogos representará a criação de dezenas de milhares de empregos. Paralelamente, substancial aumento da receita tributária, ajudando assim a recuperação econômica do país. E acabará com a ilegalidade do setor. O Brasil precisa aumentar sua renda tributária e o crescimento econômico, disponibilizar mais empregos para seus cidadãos, em novos campos de atividade. O ministro Paulo Guedes já disse que o jogo não gera problemas e tem bom potencial econômico. E jogar, joga quem quiser.

Bolsonaro, ao lado da primeira-dama Michelle, com os pastores evangélicos no Planalto – Foto Orlando Brito

Os evangélicos possuem várias emissoras de televisão, com programas de baixo nível e interesse mais financeiro do que religioso, além do comercial. Seus templos são grandiosos e riquíssimos, o de Salomão, em São Pulo, equivalente a 5 campos de futebol. São ainda bastante ativos na política e na formação de grupos no Congresso. Pedem muito ao não evangélico Bolsonaro, que sempre lhes atende. Já se meteram em disputa com os governos de alguns países africanos. Mais uma vez, pediram ao papai Bolsonaro para ajudar. Cogitou-se até de nomear um evangélico como embaixador do Brasil num país africano, pra intermediar os atritos. Seria um absurdo.

A Caixa Econômica Federal obviamente não se assemelha a um tipo de cassino, mas explora o mercado com dezenas de tipos de jogos, em que quase ninguém é sorteado. Os pobres jogam e mais jogam, perdem e mais perdem. A Loto da CEF também pode ser considerada como um jogo de azar. Assim a criticada e pecaminosa jogatina também é praticada pelo governo.

Jogo do Bicho

O jogo do bicho, oficialmente proibido há décadas, jamais deixou de ser praticado. É reconhecido como atividade honesta, em que os acertadores efetivamente recebem seus prêmios. Las Vegas, Mônaco, Estoril e outros são amplos sucessos financeiros em seus países. Esta também é uma atividade de lazer. Ou a elite financeira do governo brasileiro seria incompetente para fiscalizar e punir eventuais ilegalidades no novo segmento produtivo?

No Brasil o jogo assusta mais o governo do que a criminalidade, a droga, a corrupção, a pobreza, a ignorância. Tempo de superar receios e iniciar novas conquistas, como o jogo. Muitos milhares de brasileiros costumam viajar para países limítrofes para arriscar sua fezinha nos cassinos. Até aviões são fretados por grupos.

O desfecho dessa longa guerrinha dispensável provocada por Dona Santinha será interessante. O autor do projeto de legalização do jogo, já aprovado na Câmara e esperando a decisão do Senado, é do senador Ciro Nogueira. Atualmente ele é o Chefe do Gabinete Civil da Presidência da República. Portanto, é ministro do presidente Bolsonaro.

Quem vai ganhar essa disputa? O projeto do Senador e Ministro ou o veto do Presidente? Façam suas apostas.

José Fonseca Filho é jornalista

Deixe seu comentário