Glenn Greenwald a transformação ética  do PT

Para o autor, ao denunciar os ataques racistas e homofóbicos sofridos pelo deputado Davi Miranda por parte de “alas fanáticas” do PT, simplesmente por apoiar a candidatura de Ciro Gomes, o jornalista inglês presta um grande serviço à democracia brasileira.

Glenn Greenwald - Foto Orlando Brito

Glenn Greenwald no artigo “Racismo, mentiras e homofobia” (Folha de São Paulo de 26.6.22) é direto no registro de ataques racistas e homofóbicos da parte de “alas fanáticas” do PT, depois que seu esposo David Miranda deixou o PSOL, filiando-se ao PDT, optando por votar em Ciro Gomes.

Marina Silva – Foto Orlando Brito
Ciro Gomes – Foto Orlando Brito

Glenn inicia seu texto citando uma entrevista com Marina Silva na qual ela atribuía ao PT e não a Bolsonaro a valorização de um cultura  da  polarização mais que o debate, processo alimentado por “mentiras e ódio”.

Glenn a entrevistou em 2018 e confessa não ter compreendido toda a profundidade da denúncia de Marina dos problemas éticos de petistas já presentes há muito tempo. Agora caiu a ficha para Glenn, tudo ficou claro diante “das táticas de destruição pessoal” de espalhar preconceitos e mentiras contra seu marido, forma de puni-lo pelo “grave delito” de deixar o PSOL e apoiar Ciro, o candidato do PDT.

“Rapaz burro”, “objeto sexual” cuja vida não tem outro objetivo senão “a exploração do corpo”, são algumas das baixarias preconceituosas perpetradas contra David Miranda por petistas.

Eduardo Cunha e Michel Temer.

Glenn é ácido e não poupa crítica às hipócritas “alianças pragmáticas” do PT (com Eduardo Cunha, Michel Temer, Sérgio Cabral) e tantas outras, como  a da “convergência estratégica” com o pastor homofóbico sargento Isidoro.

Glenn é cuidadoso ao atribuir essas posturas autoritárias e odiosas a setores ou alas sectárias do partido de Lula. Por certo, os apoiadores ou simpatizantes do PT em geral não podem ser confundidos com certa militância muito próxima a performances totalitárias de destruição de imagens. Mas também é certo que esses quadros bestiais constituem aquilo que produz importantes encaminhamentos no cotidiano partidário e alimentam a já desgastada imagem do lulopetismo.

Paulo Maluf e Tancredo Neves – Fotos Orlando Brito

A compulsão antidemocrática vem de antes, desde a expulsão, em 1985, de três deputados que não obedeceram ao comando diretivo do PT de não participar da escolha, no Colégio Eleitoral, para presidente, entre Maluf e Tancredo.

É reconhecido que em 2018 a vitória de Bolsonaro deveu-se em grande medida ao ambiente de repulsa ao modus operandi de petistas.

David Miranda – Foto Reprodução/Facebook

Glenn conclui sua fala questionando o futuro de um partido sob comportamentos inaceitáveis. David Miranda não teria o direito, como milhões de brasileiros, de sonhar com uma terceira alternativa ao que se apresenta aos populismos nos quais residem os nichos de protofascismo e neostalinismo? Eles são reais, presentes em posturas extremadas de bolsonaristas e lulopetistas?

Glenn afirma: “Um movimento político que visa destruir seus adversários com ataques baseados no ódio de classe, na homofobia e no racismo não pode governar com compaixão, empatia ou integridade. Um facção política que condena ataques preconceituosos quando voltados contra si, mas que não hesita em empregá-los contra adversários, não é nada se não oportunismo e hipócrita”.

“Mais do que isso, um movimento político que ganhe eleições vendendo a alma não irá recuperá-la na hora de governar”.

Parabéns Glenn. Mais uma vez você presta um serviço à democracia, afinal, como apoiar candidatos que se posicionam como de esquerda, emancipatórios, a serviço da igualdade, silenciando-se sobre suas milícias morais totalitárias?

— Edmundo Lima de Arruda Jr. é Prof. titular aposentado da UFSC. Graduado em Direito pela Universidade de Brasília. Doutor em Direito pela Universidade Católica de Louvain – Belgica. Pós Doutor Paris X Nanterre (2009) e em Paris VIII St. Denis (1998). Autor de 35 livros. Fundador do CESUSC.

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