Há pelo menos um ano a classe política sabe que precisaria ter um nome forte para conseguir quebrar a polarização entre Lula e Bolsonaro na disputa pela presidência da República nas eleições deste ano. Algumas lideranças até tentaram. Chegaram a criar um grupo de WhatsApp, que permaneceu silencioso até ser encerrado. As conversas não avançavam. As vaidades pessoais sempre falaram mais alto que os interesses do país.
Faltando menos de seis meses para o primeiro turno das eleições, finalmente os presidentes do PSDB, MDB, União Brasil e Cidadania se reúnem e iniciam uma discussão em busca de um nome de consenso. Disseram aos jornalistas que dia 14 de maio anunciarão o escolhido ou escolhida. Tentam ganhar os votos dos chamados eleitores nem-nem, que não querem nem Lula e nem Bolsonaro. Infelizmente pode ser tarde demais.
As brigas internas e os interesses locais podem colocar água no chope da chamada terceira via. Além do atraso nas conversas – as negociações locais já estão bastante avançadas – os nomes que estão sendo analisados até agora não empolgam os eleitores e podem ser facilmente rifados pelos próprios colegas de partido.
Em artigo publicado nesta quinta-feira no jornal O Estado de SP, o jornalista William Waack explica os motivos da terceira via não decolar. Para ele, “a combinação das regras da eleição proporcional com o aumento do poder do Legislativo no sistema de governo, e a essencial formação de bancadas nutridas”, afetam diretamente a disputa presidencial.
Na visão do jornalista, dada essa situação, “os nomes de Lula ou Bolsonaro ajudam os partidos e candidatos de determinadas regiões, mas os da terceira via não ajudam em lugar algum a engordar o quociente partidário”. Infelizmente essa é uma verdade que pode ser facilmente constatada.
No MDB, por exemplo, embora o nome da senadora Simone Tebet esteja sendo cogitado como o escolhido, tanto pelo seu potencial de crescimento quanto pela sua baixa rejeição, 13 diretórios do partido, sobretudo no Nordeste, já manifestaram apoio ao candidato petista.
Lula, como se sabe, tem bom alcance no Nordeste e isso faz com que os candidato locais queiram estar ao seu lado no palanque. Já Simone, desconhecida na região, deve ser ignorada solenemente caso seja escolhida. Traição, aliás, é o forte do MDB. Nem Ulysses Guimarães escapou dessa maldição dentro do próprio partido. Na campanha de 1989 chegou praticamente sozinho ao final do primeiro turno.
Os tucanos, por sua vez, não conseguiram sarar as feridas deixadas pela última eleição presidencial, quando o atual pré-candidato do partido, João Dória, traiu vergonhosamente seu padrinho político, o ex-governador Geraldo Alckmin. O resultado é que o partido se dividiu ainda mais. Alckmin deixou o PSDB após mais de 30 anos e é cotado para compor a chapa com Lula.
Dória ficou com fama de traidor e, apesar de ter sido responsável pelo início da vacinação contra a covid-19 no Brasil em 2020, tem um alto índice de rejeição. Tanto que até agora não conseguiu decolar nem mesmo em São Paulo, mantendo-se com apenas 2% das intenções de votos.
A União Brasil – resultado da fusão do antigo DEM e PSL-, também parece dividido sobre o futuro e não demonstra muita firmeza em relação ao lançamento de um candidato da terceira via. Luciano Bivar, presidente da legenda, rifou a candidatura do ex-juiz Sérgio Moro e avisou que o candidato será ele próprio, talvez buscando a indicação para vice.
Dentro do partido dois nomes de peso – o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, e o prefeito de Salvador, ACM Neto -, já demonstraram suas preferências. O primeiro por Bolsonaro e o segundo por Lula, embora o PT tenha candidato próprio ao governo da Bahia e não tenha interesse em apoiá-lo. Mesmo assim ACM Neto não está disposto a se indispor com o petista.
O Cidadania é o único que parece interessado em levar adiante a união em torno de um nome para ser a terceira via. A questão é que se trata de um partido pequeno e com poucos recursos do Fundo Partidário, a grande vantagem dos demais.
E o PDT, que não participou das conversas, busca a adesão ao nome de Ciro Gomes, mais bem colocado entre os demais nomes, embora não tenha conseguido chegar nem aos 10% das intenções de votos. Por enquanto conquistou apenas o apoio do Cabo Daciolo, sexto colocado na corrida presidencial de 2018, com 1,26% dos votos.
Quem sabe orando no monte, Daciolo não consiga o milagre de fazer o pedetista crescer nas pesquisas ou de abrir mão da sua candidatura em nome de um Brasil melhor. Glória a Deuxxxx!!!!