Do barro a voz

Uma homenagem às mulheres através de Evanilda, uma brasileira que traz no semblante a força feminina

Aquele olhar de sabedoria penetrante, rosto engelhado, sorriso
largo, escancarado e encantador: Evanilda traz no semblante a força da
mulher, nas mãos rápidas, ágeis e calejadas a arte de ‘trabalhar’ o tanino,
como ela descreve: “o sangue do mangue”, obtido do mangue-vermelho,
colhido dessa árvore ali mesmo naquele manguezal, que de tão perto, na
maré-cheia vem ‘lamber’ seus pés como numa reverência da Mãe D’água.
Fica contíguo ao seu ateliê e às fogueiras que acende diariamente, assim
uma deusa das cores e do fogo, para a queima do barro colorindo-o de
ébano.

Fiquei encantado com a intensidade de sua delicadeza, com a força de suas mãos, embevecido pelas expressões e enquadramentos que
proporcionava, em simbiose perfeita com minhas objetivas, com a tamanha doçura empregada em seus movimentos intensos e certeiros,
com a agilidade que impunha à pintura, garantindo efeitos sem igual as
imagens; ora junto ao lumaréu, ora junto aos fumos, ora na
luminescência, ora como colorista. Sua imagem, refletida no espelho da
câmera, dialogava incrivelmente com a estética que eu buscava para
aquele ensaio. Ela, com habilidade, descortinava seu ofício, aprendido
com suas antepassadas, para lentes maravilhadas ‘mergulhadas’ em
imensa belezura. Foi mágico!

Não sou dos que acham que é necessária uma data específica, para
‘lembrarmos das mulheres’; não mesmo! Me impressiona essa
necessidade e as tais ‘homenagens’ com flores, brindes e regalos. Não me
parece lógico que me pleno século 21 ainda achemos que reverência,
igualdade e, principalmente, respeito se resumam a uma data.
Evanilda trabalha de sol a sol junto ao fogo que arde sem piedade,
seu estúdio é, quase, ao ar livre lá nas Paneleiras em Goiabeira — Vitória
(ES), dali tira o sustento para si e sua família.

Ela é mais uma dessas mulheres incríveis, brasileira, que luta por
dias melhores, que se impõe para ser vista por uma sociedade que vive
persistindo na sua não-existência, que pranteia, que traz a saga de ser
mulher em um país misógino, sexista e machista. Ela é colorista, é artista
plástica, numa simbiose perfeita, lança mão dos quatro elementais da
natureza para compor sua obra.

Evanilda, mulher vívida, é a representatividade do 8M. Em nome
dela parabenizo a todas pelos 365 dias do ano.

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