Cooperativismo, a força com inovação

O cooperativismo, com tecnologia e associativismo, mudou o campo brasiliano, tornando a agricultura e a pecuária mais prósperas e ricas. Poderá ele mudar o Brasil?

“O conceito de massa crítica, tem sua origem na física que a define como a quantidade (mínima) de material radioativo necessário para produzir uma reação nuclear”, escreveu Everett Rogers, professor da Universidade da Califórnia do Sul, da Escola de Administração de Harvard (pag.16 do livro Mega Tendências para as Mulheres, de Patrícia Aburdene & John Naisbitt, 1992)

Realmente, o mundo globalizado de hoje vive sob megatendências que, no relacionamento social, se assemelham a verdadeiras reações nucleares a desencadearem forças que se aglutinam. O Brasil, por não ser uma ilha isolada, mas terra de todas as gentes e credos não foge à regra. Como a moda feminina, que estereotipou manequins magérrimos, supervalorizando a magreza causadora de doenças como anorexia e bulimia, teve que se render e adaptar-se às necessidades econômicas começando a fabricar modelos para as pessoas gordas e também aceitar a introdução do rústico jeans que tomou conta do mercado a tal ponto que, hoje, andar de calça de jeans rasgada virou tendência da moda e de elegância.

Chitãozinho & Xororó – LP Clássicos Sertanejos / 1996

Na economia, na arte ou nos meios de transporte tudo muda como na avassaladora onda da nossa música sertaneja, como provam os 50 anos da brilhante carreira da dupla Chitãozinho & Xororó ou novo Sertanejo Universitário, estilo musical que veio do sertanejo raiz.

O poder econômico, força motriz de qualquer sociedade, está mudando de mão no Brasil. Aconteceu quando os filhos das famílias ruralistas, que vinham para as grandes cidades em busca de estudo e conhecimento, constataram e perceberam que o árduo trabalho das suas famílias no campo poderia acumular riqueza com o agronegócio, se nele fosse incorporado a automação e inovações tecnológicas. Foi a megatendência de voltarem para se incorporar ao negócio familiar e modernizá-lo tecnologicamente.

Evidente que as pesquisas da EMBRAPA foram fundamentais para aumentar, não só a produtividade agrícola como a soja transgênica que nos fez o maior produtor mundial, mas a melhoria genética dos nossos rebanhos, como aconteceu com a introdução da raça zebu no plantel do gado brasileiro, com técnicas de fecundação in vitro, produção de embriões e clonagem.

As cooperativas de crédito, que diferem dos bancos convencionais, faz o associado deixar de ser mero cliente para ser dono com direito a voto e à participação proporcional quando são distribuídos os resultados anuais. A robustez deste novo cooperativismo pode ser comprovado com a maior cooperativa da América do Sul, através da COAMO (Cooperativa Agropecuária Mourãoense Ltda), aqui no Paraná (PR), que se alastrou pelos estados de Santa Catarina (SC) e Mato Grosso do Sul (MS).

Selo comemorativo dos 50 anos da Coamo

Fundada por 79 pequenos agricultores em 28/11/1970, liderada pelo agrônomo José Aroldo Gallassini, que conduziu os primeiros experimentos de trigo na região de Campo Mourão, se transformou na maior cooperativa da América do Sul com mais de 130 mil associados. Com nova semente produzida no MS, hoje até no Nordeste se planta trigo, para ainda nesta década alcançarmos a autossuficiência na matéria-prima do nosso santo pão de cada dia.

Trabalhadores braçais numa plantação de cana-de-açúcar

A mão de obra artesanal foi
substituída pelo moderno
maquinário de última geração
em que o operador dos
tratores e das colheitadeiras tem o
conforto de cabines com ar-condicionado e operam por
modernos computadores via internet.

Colheitadeira e drone lado a lado numa lavoura-  Foto: agrointeli.com.br

O crescimento vertiginoso do agronegócio – que vem sustentando nos últimos anos a economia brasileira -, com sua modernização tecnológica e preparo das novas gerações de brasileiro, quer das pequenas, médias e grandes propriedades, as quais também perceberam que está no campo o melhor nível de vida e segurança pessoal. Tudo isso, além da industrialização da sua produção, o que gera empregos, reclama mais pesquisa local e incrementa a tecnologia pela experiência dos próprios trabalhadores desta rendosa atividade.

Será este setor estratégico do interior que levará nas próximas décadas o Brasil a ser o maior produtor de alimentos do mundo e o possível estancamento da urbanização das grandes metrópoles. Estes indicadores sociais, se abraçados como um Programa de Estado, poderá resolver ao mesmo tempo vários problemas que o urbanismo desenfreado causou como transporte, moradia e marginalização da juventude explorada pelos traficantes e milicianos.

Tome-se por referência um índice da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) que mede o nível de subsídio (empréstimos) ou apoio dos governos (incentivos) com base na receita que o setor do agro gera para constatarmos que: enquanto nos EUA este apoio é da ordem 12, na China, 17, na Europa, próximo de 20, no Japão e Noruega chegam na casa de 30, aqui no Brasil, com 1,2, somente perdemos para a Nova Zelândia, com 0,7.

Novas gerações interioranas já perceberam que também poderão assumir a liderança política do país para exercerem o poder e diminuir o gigantismo do estado brasileiro. Elas querem melhor qualidade de vida também para as regiões metropolitanas, onde, infelizmente, o crime organizado se estabeleceu e a marginalização social impera, muito disso pela incúria, omissão e irresponsabilidades dos políticos que estimulam invasões e permitem habitações em terrenos impróprios para edificação, como já disse aqui n’Os Divergentes, em março último com o título de Tragédias Anunciadas. Comentei o caso de Petrópolis e, agora, o mesmo aconteceu no Recife (PE), como outras irão aumentar as centenas de mortes. Mas as causas destas tragédias não são atacadas.

A megatendência das novas gerações será de permanecer no interior ou fugirem das favelas das grandes cidades dominadas pelas milícias, traficantes e crime organizado. O mundo sempre precisará de alimento e este não vem das ruas e avenidas das cidades, mas das lavouras, do campo e das pastagens, dos galinheiros, dos chiqueiros e da fruticultura, como já está acontecendo no Nordeste, porquanto a transposição do Rio São Francisco foi concebido por Dom Pedro II.

Por outro lado, temos a maior bacia hidrográfica do mundo que tem a maior variedade da piscicultura, rios que nos dão energia limpa e renovável, além dos milhões de toneladas de peixes, um dos melhores alimentos da humanidade. Em resumo, este imenso território tem a maior biodiversidade do planeta e a Amazônia com pulmão do mundo.

Nos falta apenas um sistema de governo em que o POVO possa efetivamente escolher os seus governantes sem a enganação deste voto proporcional, uma das causas da ditadura dos partidos que continuam gastando bilhões em suas campanhas eleitorais.

Na sociedade da informação, os cérebros são mais importantes que apenas os músculos. Uma tendência está acontecendo nas universidades onde a presença da mulher se faz notar. No Brasil, e isto tem que ser repetido, as mulheres são a maioria, daí ser auspicioso saber que a única mulher pretendente à presidência e capaz de representar a terceira via forjou-se na experiência de prefeita, vir do agronegócio e conquistar a presidência da mais importante comissão do Senado, pela sua inteligência e preparo. Afirma que em seu ministério, se eleita, será paritária a presença de homens e mulheres. E por falar no agronegócio tem que ser destacada e presença resplandecente da atual Ministra da Agricultura, a engenheira agrônoma Tereza Cristina.

Que esta massa crítica espalhada na sociedade civil do nosso interior seja a reação nuclear que irá gerar a nossa CONSTITUINTE EXCLUSIVA, e o povo retome o imenso destino desta nação.

*  Nilso Romeu Sguarezi é advogado. Foi deputado federal constituinte de 1988 (parlamentarista, defensor da Constituinte Exclusiva pelo voto distrital e não obrigatório através de PROPOSTA DE INICIATIVA POPULAR, art. 14, III, da CF) 

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