Há alguns dias uma movimentação estranha vinha acontecendo no ninho tucano com penugens flutuando sobre o ninho, demonstrando que a aparente calmaria estaria prestes a se transformar em rinha de galo. A decisão do governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, de renunciar ao mandato e se manter no PSDB foi o prenúncio da guerra. Nesta quinta-feira, a batalha começou com a decisão do governador João Dória de se manter à frente do governo de São Paulo, desistindo da candidatura à presidência da República. Penas voaram para todos os lados e as lideranças partidárias correram para recolhe-las antes que o estrago seja ainda maior.
Dória foi escolhido candidato do PSDB à presidência nas prévias do ano passado, mas nunca conseguiu unir o partido. Seu fraco desempenho nas pesquisas de opinião pública – jamais ultrapassou 2% das intenções de votos – aumentou ainda mais a guerra interna. Os desafetos do governador, o mais notório é o deputado Aécio Neves, jamais o aceitaram como candidato e nem acreditam que a sua decisão seja pra valer.
A confusão interna do PSDB não é apenas troca de bicadas entre os tucanos. Ela afeta diretamente a sucessão presidencial, sobretudo a candidatura da chamada terceira via. Eduardo Leite é visto como um nome mais agregador e com capacidade para atrair o voto dos mais jovens e dos indecisos. Fala bem, nunca se envolveu em escândalo de corrupção, pelo menos que tenha vindo à público, e não tem um índice de rejeição tão elevado quanto o do colega paulista.
Não sei se vai unir o partido. Na época do governo Fernando Henrique diziam que os tucanos não eram solidários nem no câncer. Mas pode abrir espaço para conversas com a candidata do MBD, Simone Tebet, e outros partidos.
A questão é que os desafetos de João Dória no partido veem com certa incredulidade a decisão de desistir da disputa. Acreditam que é mais uma jogada para obter apoio integral do partido que vinha fazendo corpo mole à sua candidatura. O presidente do PSDB, Bruno Araújo, parece ter caído direitinho no jogo e já divulgou uma carta reiterando Dória como candidato do partido à presidência da República.
Somente no sábado teremos a certeza de que a decisão de Dória foi mesmo pra valer. Se não deixar o governo dia 2 de abril, não poderá mais disputar a presidência, apenas a reeleição.
Aliás, sobre a terceira via outro fato noticiado hoje mostra que o tabuleiro está se movimentando. O ex-juiz Sérgio Moro deixou o Podemos, filiou-se à União Brasil, desistiu da corrida pelo Palácio do Planalto e deve concorrer a deputado federal.
Moro, aliás, vinha sentindo as pancadas dos dois principais candidatos – Jair Bolsonaro e Lula – que o elegeram como o grande vilão a ser abatido. Com isso, não conseguiu crescer nas pesquisas. Junto com o ex-procurador Deltan Dallangnol deve formar uma bancada na Câmara para defender pautas de combate à corrupção. Vai ser engraçado ver o próximo presidente – Lula ou Bolsonaro – sendo obrigado a negociar com esse turma. Ah, isso vai….